Panóptico

terça-feira, 22 de setembro de 2009

ESTOU GASTO COMO MEUS SAPATOS (Sérgio Dedão)


guerra é paz
liberdade é escravidão
ignorância é força”
(George Orwell - 1984)

Estou gasto
como meus sapatos
Tenho vivido e andado
muito
Absorvido por meus pensamentos
Pensamentos tão gastos
quanto as solas de meus sapatos
Roubei muitas idéias
e
misturei com minha
mente atômica
Pinceladas atômicas
em um mundo sem cor
Sem cor não é o mundo
São as pessoas quando
estão tristes
Disparo palavras
em um mundo blindado
de violência e pobreza
Sinto-me longe de mim
mesmo.
Perdido em um oceano
de idéias fixas-móveis
Sou um megalomaníaco
atado por minhas próprias idéias
Estou gasto
como meus sapatos
Não quero salvar o mundo
Ele não quer ser salvo
A transformação da realidade
é
uma
responsabilidade
e
uma
escolha
subjetiva
A matrix é um mundo para poucos.
A verdade é um mundo para poucos.
A estupidez é um mundo para muitos.
A ignorância é um mundo para muitos.
Se sua apatia é uma síndrome.
Se sua indiferença é um câncer.
Se sua alma é podre.
Responsabilize-se por você.
Você entendeu?
Você está pronto?
Você ressucitou-se de seu mundo
de consumo e controle?
Responsabilidade e escolha
são palavras reais.
Ser livre
é
uma
responsabilidade
e
uma
escolha
Você me entendeu?
Estou gasto
como os meus sapatos.

(Sergio “Dedão”)
    24/05/2007

domingo, 20 de setembro de 2009

SAUDAÇAO AOS PAPAGAIOS (por Pirro)


O McDonald’s invadiu Aracaju,
             numa euforia folclórica
os papagaios devoram
             o símbolo do progresso
desprezando o cuscuz,
                     o feijão e a farinha
que mata a fome e sossega o animal.

Esses papagaios majestosos
                           engolem por status
a griffe luxuosa de rações in fashion,
               depois arrotam com finezas
a filosofia da boa saúde e do bom tom
embalado com suas reflexões profundas
no pagode da culturalite brasileira.

Extra! Extra! Extra!
Saiu nos jornais da cidade:
“o McDonald’s conduzirá
os papagaios da terra ao novo paraíso”.
Diante da boa nova
seus espíritos cavalgam no dorso
de seus entusiasmos coloridos
cutucados pelo sonho Beverly Hills
                                  da 13 de julho
como numa propaganda romântica
          de telefone celular.

Come on, my brother, saudemos
a novidade dos sanduíches de ouro
com overdoses de carnaval
e tiaras de caju.
Yeah! A alegria borbulha
           no estômago da cidade.
Realmente nada mais importa, yes!
O importante é estar no centro
com a cabeça cheia de oxigênio
soprando lorotas e logomarcas.
Me-digam papagaios dourados:
esse é o único sentido da vida,
de seus dias tão célebres e felizes
no teatro de seus jogos e diversões?
                                                                   (Pirro)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

MANDAKARU (por Pirro)

“Sou como mandacaru: nem dá sombra,
nem dá encosto”
(expressão popular)


Neste ermo de catingas e brenhas,
se enraíza meu esqueleto de cacto
a refletir sua arquitetura desleixada
na tela do pôr do sol do SERtão.
Quando estranho o absurdo em mim
descubro a virtus de meus espinhos
e me flagro Mandakaru.

Privado de belas folhagens
me adapto à seca desolação.
Com fome de tempestade
tento me erguer como um carcará
mas eu não posso sair de mim
nem me transformar em camaleão:
Minha sina é projetar espinhos
pois sou Mandakaru.

Assim real e vivo como um teiú
vagando pelos confins dos sertões
escuto o canto dos caburés noturnos
e sinto as taças noctifloras do corpoespírito
revelarem-se através de meus poros
que se adensam em bemalmequer:
eis os contrários à flor dos espinhos
deste ser Mandakaru.

Carrego em meu semblante sulcado
como a terra de meus pais e avós,
a tirania das longas estiagens
bem como a violência das trovoadas,
que arrasta em sua espiral
fragmentos de vidas e utopias;
mas continuo sobrevivendo às catástrofes
e resistindo aos meus próprios espinhos:
Afinal, sou Mandakaru.
                                                                             (Pirro)