Panóptico

sábado, 13 de fevereiro de 2010

ALQUIMIA DOS AFETOS


Nitimur in vetitum” (Ovídio)
A noite se dissolve na alquimia dos afetos
os malditos mordem o umbigo das prostitutas
bem relaxados e o cérebro fervendo
feito chaleira de café.
A esfinge louca que somos se reconhece
no coração do mercado-noite
onde os animais furtivos
pedem uma dose de conhaque
para esquentar seus delírios e delitos
a fim de fugir da patologia
da normalidade repressiva.
Cá estamos nós entre homens e mulheres
nas avenidas e ruas da noite acesa
tragando a cachaça do momento único.
Aos cambaleios poético-etílicos traçamos
o mapa de nossos subterrâneos
como quem pesca nas madrugadas
do Rio Sergipe.
Uivamos canções ao proíbido
em que o animal inocente
de Rilke nos diz: “é às noites
que minha alma se confia”.
Quando o dia abre os olhos
descobrimos que o céu e o inferno
se fundem no sangue-firmamento
de nossas secretas e sangrentas paixões.
(Pirro)

RAFAELA


"Sainte-Thérèse comme philosophe" by Félicien Rops (1833- 1898)


Rafaela me diz
que veio do sertão de Alagoas
atravessou o Rio São Francisco
na carroceria de um mercedes-benz
agora, ela está amaciando
os membros grotescos
dos senhores da moral
nos cabarés e mercados do Centro.


17 anos e um olhar de puta inocente
coração de moleca espevitada
acariciando a pedra bruta
desses dias tão polidamente bárbaros
e de palavras que não colam
no Porto Dantas de Rafaela.


Ela me diz que foi abandonada por Cristo
e suspeita que ele não é o que dizem
que a sociedade é feita de animais cínicos
sob a máscara de educados artifícios:
“minha única saída, ela diz
é endurecer o corpo e abrir as pernas
prum mundo sem amor”.


Ah, pode acreditar, minha santíssima puta
vou endurecer junto com você
num mundo de parabólicas e vitrines coloridas
onde socialites vaidosas e sem-cérebros
berram em pastos sempre verdes
babando as pencas de cajus,
e uruburgueses porcolíticos franqueados
chapados de whisky, cifrões e retóricas
na moderna província de Aracaju.

                                                                                           (Pirro)






sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SUPER-HOMEM (por Pirro)

(Praça Ramos by Osvaldo Hernadez)
O amor, a dureza
o caminho, sacrificeo vento nos cabelos,
a pedrada na cara
a rasteira e a queda,
a poeira nas calças.
o fumo, bem-relax
olhe-se no olho
quebre o espelho
e
jogue o seu jogo