Panóptico

quinta-feira, 21 de julho de 2011

DESTINOS (por Pirro)

Cena do filme A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'aube, 2008), do diretor Philippe Garrel.




















                                                             Para Mary
A noite surgiu
no acender das lâmpadas:
nos encontramos na sala, baby
tão próximos, tão distantes
         como dois animais exóticos
         encurralados contra a parede
         de nosso próprio pacto diabólico.
Enquanto Rilke me revela a vida
sorrindo pro Aberto do mundo,
você saboreia a novela das oito
esparramada sobre o sofá
na fantasia de um happy end.


We're chained, baby
no (des)encontro e contra-choques de nós:
passamos tagarelantes ou silenciosos
poucas vezes de mãos dadas pela rua;
nos atracamos pelos cabelos e pentelhos
       na escuridão de nossos segredos
       confissões e degredos
       sob os lençóis
       de uma madrugada fria.
Que imagem tão comum:
eu de cueca
matutando com o mundo
e você de calcinha
sonhando debruçada
sobre os rabiscos de futuros planos.


Já é dia:
como as estações
         passam apressadas!
Você pega o táxi-de-lotação
        e segue seu caminho
        como uma abelha-operária
        muitas vezes entediada,
dizendo que "o mundo é cruel",
e se fazendo de "defunto
        pra meter o dedo
        no cu do coveiro".
Eu pego o ônibus coletivo
e corro para os combates
       de todos os dias
matando um leão feito açougueiro
para tentar recriar
        novos valores, novos sentidos
        novos amores, novos ódios
        novas trocas e fatias
com cheiro de pó e fumaça da terra,
entre delírios poéticofilosóficos,
               tubos de biritas, livros e canções.
Mas apesar de tudo
e antes que a terra me chame de volta,
“as difíceis palavras”
que engasgaram Bukowiski,
eu também as digo
depois de muitos engasgos,
                          silêncios
                               e
                          paranóias:
                        “eu te amo”.

terça-feira, 12 de julho de 2011

SÓ SEI QUE NADA SEI DE MIM, SENHORA FELIZ... (por Pirro)


Fotografia de Hernany Caburé





















Só sei que nada sei de mim, Senhora Feliz
Cidade das pedras frias dos homens
Mandacaru sob os meus pés
Acri Clube de "tabocas"
Presenteadas por garotas prendadas
Tão lindas de morrer
Em noites de cervejas e Hi-fi
Sob os embalos de sábados
Ouvindo e dançando Boys don't Cry
É a memória fincada em meu corpo, Senhora Itabi
Na dureza antiga e sertaneja
Das Pedras da Paciência,
Que me ensinou a ser-tão
Simples matuto do mato
Como um jegue matando o tempo
No cair do crepúsculo de suas ruas.
                                                                                                      (Pirro)