Panóptico

segunda-feira, 20 de junho de 2016

TERAPIA DE CHOQUE (Clark Bruno)

by Bahman Mohassess (pintor iraniano)


O vinho
do Porto
Desce pela goela
Seco
Pedras
Cacos
De humanidade
Constroem o mundo
Gato preto em cima
Da cumeeira
Da casa
A biologia
Supra sumo
Século XXI
Fim do materialismo
Histórico ?
Vidas artificiais
Povoam o planeta
Autômatos em busca de conforto
material
Mas Quando a economia
Anda mal
Sonhos não acontecem
Falta comida
Na África
Mas a bola gira
celebração
Negros
Brancos
Amarelos
Matam a natureza
Por ganância
Como um pedaço
De frango
Mal passado
Engulo um gole
De cerveja
amargo
Jornalismo marginal
Sábado chuvoso
Dizer o que ninguém
Quer ouvir
Faz bem a si mesmo
Terapia de choque
Balde de água fria na cara
Um mendigo
Me pede trocados
digo que não tenho
Mesmo tendo
Disparidades
Exerço
Minha crueldade
Hoje em dia
Todo mundo
Teme todo mundo
A lógica morreu
Faço tudo por instinto
A desrazão controla
Minha vida
Carne de porco
Na grelha
Com azeite
Primeira prensagem
Anarco
Sindicalista
na ditadura
Franco
Utopias
Em liquidação
O século XX morreu
Até que enfim
Fim das patentes
Tudo é de todo mundo
Nada é de ninguém
No plano das ideias
Cuspo um caroço
De azeitona
No prato
branco
Azia
No prato
Preto
canta
Seu pai é rico
Não tem por que
Chorar
Holiday
Espinha de salmão
na garganta
nas ruas falta
leite
nos peitos
pretos
pardos
sem caras
Bebes chupam o vazio
Falta de perspectivas
Num quadro chato
rio com meus amigos 
brothers in arms 
chamo um táxi
chego
em casa
final
mente
sossego

sexta-feira, 17 de junho de 2016

DE CORDEIROS E ICONOCLASTAS




Quadro de Augusto César




















Nas profundezas de um mar morto
Lá estão os mortos vivos, homens náufragos –
Que sangram suas retinas
Na armadilha dos apóstolos,
Neuróticos assassinos dos espíritos livres.

Por sobre arranha-céus e favelas
o porvir está vindo num pavio de pólvora
trazendo, quem sabe, os restos mortais de deus
(que nunca existiu de fato),
no instante em que “os cães ladram, mas caravana não pára”.
E o sonho está logo ali
como um futuro medonho
cheirando os calcanhares dos cordeiros.

Nosso grito precipita-se no ar
E pousa como um macuquinho
Numa represa gelada de homens,
Onde o canto contorcido dos beatniks 
Resiste lambendo suas próprias feridas
Sem remorsos nem lamentos.

Indistintos clarões de luz
explodem nos bairros sujos de caras muito loucos.
Esses loucos são uma outra estirpe de cardumes
movimentando os parafusos e as ferramentas
herdadas das mãos ensanguentadas
dos velhos iconoclastas malditos.

TOADA DE UMA VIDA (por Pirro)



Mais um círculo que se fecha
Que se completa em minha vida
Sei que estou ficando velho
Preso em minha sorte bendita
Mas até fechar os olhos
A paixão será minha medida.

Cada dia que vejo o sol
E ouço cantos dos passarinhos
Vem uma largueza no peito
Queimando feito vinho
O coração pula sem jeito
Vou cavalgando de mansinho.


Meu lema é viver nas alturas
Meu carpe diem é intenso
Mergulhando nas aventuras
Amando feito mar imenso
Agitado e embriagado
Pelos amores turbulentos.

Leio os dramas profundos
De romances e poesias
Jorrando nos livros do mundo
De vaidades e fidalguias
Por isso me refaço sempre
Com silenciosa sabedoria.

Sou vaqueiro rock and roll
Cosmopolita expatriado
Sigo fazendo o meu show
Na escuridão do anonimato
Sou matuto do sertão
Mas nunca fui alienado.
                                                                               
No riacho desta vida
Tenho muito que contar
Nada de arrependimento
Porque aprendi e sei nadar
Tenho meus próprios tormentos
Mas sigo os trilhos sem rezar.

No tom desta toada
Corro despido para poente
Pisando em normas sagradas
Perseverando sem vacilar
Sou filho da terra amada
E em seu pó irei findar.