Panóptico

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

AUTOBIOGRAFIA (by Lawrence Ferlinghetti)

(Café Terrace at Night, 1888. By Vincent Van Gogh)
       CRÔNICA AMERICANA
                                              Pirro
          Confesso que todas as vezes que eu leio o poema Autobiografia, que sempre chamo de "Bar do Mike", do poeta beatnik Lawrence Ferlinghetti, uma emoção irrompe de dentro de mim como se eu estivesse revisitando minha própria vida. O poema reflete uma auto-imagem de minhas memórias, desde a infância até hoje. Literalmente, não vivi nada do que está sendo descrito nele, pois tudo que está no poema Autobiografia descreve de modo estético a propria visão de mundo, a vida re-vivida, o cotidiano de um homem ordinário americano, que creio ser justamente o próprio poeta. Mas o que é individual atravessa, em sentido universal, os valores de toda uma sociedade americana do Pós-Guerra, em relação a qual o poeta sanfrasciscano imprime uma crítica liríco-visceral contra os valores, as crenças, os sonhos e o modo de vida apregoados e vendidos pelos Estados Unidos. E de modo universal, o poema também atravessou as fronteiras norte-americanas e, não sei se por influência da tão decantada pós-modernidade, adentrou outros locais de cultura onde vivem outros indivíduos que aí se encontram, em qualquer sertão do mundo... E a propósito, o sertão está na cidade e a cidade está no sertão. Isso foi e está sendo invevitável, pelo menos para mim, indivíduo que trás consigo a experiência do campo e da cidade.
         Como indíviduo latino-americano, ao ler pela primeira vez o poema o "Bar do Mike", isto é, Autobiografia, do Ferlinghetti, senti uma empatia tão grande que o reli durante uns três dias. Na época em que eu comecei a desgustar o poema, eu tinha o hábito de beber umas cervas com meu amigo Fabrício, um sujeito gente-boa que trabalhava embarcado. Sempre bebíamos no meio da semana. Quando Fabrício chegou em minha house, eu estava lendo o poema. Botei o livro do Ferlinghetti debaixo do braço, saímos e seguimos, como de praxe, em direção ao Bar do Ivo. Sentamos em uma mesa logo na entrada e pedimos uma skol deskoladamente gelada. Olhei em volta do Bar. Os latino-americanos do Bar do Ivo, no Bugio, levavam uma vida tão ordinária tanto quanto os americanos do Bar do Mike, "na parte baixa da Broadway". Aqui, enquanto uns jogavam sinuca, outros arriscavam uns trocados nas máquinas caça-níqueis. Outros bebiam e falavam das manobras do governo do PT, e o Ivo os atendia com os dentes abertos e cheio de manha.
          Comecei então a falar entusiasmado para meu amigo sobre o Bar do Mike, da vida ali engradecida pelas imagens do passado e do presente, do canto entusiástico que as palavras encerravam, da energia dos poetas beatniks e da sua poesia colada à vida... Já de fogo, comecei a ler o poema pra ele, em voz alta. Fabrício acendeu o cigarro e soprou sua vida pro ar, sem entuasiasmo nenhum. Percebi então que era melhor fazer como Nietzsche, abraçar um cavalo e beijar sua testa dura. Fabrício não sentiu nada, não entendeu nada. Só fez ri, dizendo em seguida: "você é doido mesmo, bicho!". Porra, foi como um balde de água fria lançado em meu espírito bêbado pela atmosfera do Bar do Mike. Fechei o livro na hora, e ri sem graça. Depois, balancei a cabeça, pensando: o Bar do Ivo não é como o Bar do Mike. No Bar do Mike certamente estaríamos ouvindo Crossroads, de Robert Johnson. No Bar do Ivo, ouve-se Bruno e Marrone e suas dores de corno, enquanto o Secretário do diabo de Jackson do Pandeiro foi enterrado na lixeira da memória latino-americana. No Bar do Mike com certeza ouvia-se Cocaine Blues de Johnny Cash. No Bar do Ivo, ouve-se o kisch da Calcinha Preta, enquanto o Carcará de João do Vale foi esquecido pelo indivíduos provisórios brasileiros, reflexos automáticomentais dos meios de comunicação de rebanho.
          Paguei a metade da conta e saí fora, decepcionado, com o livro do Ferlinghetti debaixo do sovaco, e pensando o quanto a maioria dos homens são anti-poéticos, anti-pensadores... Eles estão e não-estão no mundo. Jogam fora a possibilidade de se ver a si por meio da arte, e de se reconhecer no outro, aqui e lá, em seus sonhos, misérias e dores, na América do Norte ou na América Latina. Eles não percebem o quanto estamos transligado neste único planeta onde a experiência da vida e da morte é sentida a fundo, mas que pode ser dignificada num sentido épico-narrativo (engradecimento, heróico), lírico-cômico (sentimentos patéticos e ridículos) e trágico (os sofrimentos, as duras penas e lições). Foram estas as impressões experimentadas por mim ao beber a essência etílico-vital do Bar do Mike, como afetuosamente o denomino. Ferlinghetti conectou o passado individual e coletivo ante as experiências do Século XXI. Com isso, me conectou a mim, a ele próprio e a muitos outros vagamundeando pelas aldeias do mundo. Vamos ao poema.

AUTOBIOGRAFIA* (Lawrence Ferlinghetti)
(ou BAR DO MIKE)

Levo uma vida sossegada
no Bar do Mike todo dia
olhando os campeões
do Bilhar do Dante
e os viciados em fliperama.
Levo uma vida sossegada
Na parte baixa da Broadway.
Sou um americano.
Fui um garoto americano.
Li a Revista do Garoto Americano
e me tornei um escoteiro
nos subúrbios.
Pensei que eu era Tom Sawyer
apanhando lambaris no Rio Bronx
e imaginando o Mississipi.
Eu tinha uma luva de beisebol
e uma bandeira dos USA na bicicleta.
Entreguei o Companheiro da Dona-de-Casa
às cinco da manhã.
Ainda consigo ouvir
o jornal caindo na porta das casas.
Tive uma infância infeliz.
Vi Lindberg aterrisar.
Voltei a olhar para casa
e não vi anjo algum.
Fui apanhado roubando lápis
na Loja A Barateira
no mesmo mês que ganhei
a Águia dos Escoteiros.
Cortei árvores para a CCC
e me sentei sobre elas.
Desembarquei na Normandia
num bote inflável que virou.
Vi os exércitos civilizados
na praia de Dover.
Vi pilotos egípcios em nuvens vermelhas
mercadores fechando a loja
ao meio-dia
salada de batatas e gerânios
em piqueniques anarquistas.
Estou lendo “Lorna Doone”
e a vida de John Most
terror dos industriais
uma bomba na escrivaninha o tempo todo.
Vi a parada dos lixeiros
quando nevava.
Comi cachorro quente pelas praças.
Ouvi falar em Gettysburg
e em Ginsberg.
Gosto disso aqui
e não vou dar as costas
pro lugar donde eu vim.
Também viajei em vagões vagões vagões.
Viajei entre gente desconhecida.
Estive na Ásia
com Noé na arca.
Estive na Índia
quando Roma nasceu.
Estive na manjedoura
com um jumento.
Vi a Divina Providência
olhando de uma Casa Branca
ao sul de San Francisco
e a Mulher que Ria em Loona Park
do lado de fora do circo
durante uma tempestade
mas sempre rindo.
Ouvi o som da festança de noite.
Caminhei sozinho
como uma multidão.

Levo uma vida sossegada
no Bar do Mike todo dia
olhando o mundo passar
com seus sapatos esquisitos.
Um dia comecei a dar
a volta ao mundo
mas acabei no Brooklyn.
Aquela Ponte foi demais para mim.
Me engajei no silêncio
exílio e astúcia.
Voei muito perto do sol
e a cera das minhas asas derreteu.
Estou atrás do Meu Velho
que eu nunca cheguei a conhecer.
Procuro o Líder Perdido
com o qual eu fugi.
Jovens deviam ser aventureiros.
É da casa que se sai.
Mas Mamãe nunca me disse
que ia ser assim.
Mamãe-eu-quero
Pernas para cima
Eu viajei.
Vi cidades imbecis.
Vi massas nas missas.
Ouvi o Chico chorando.
Ouvi um trombone rezando.
Ouvi Debussy
meio tocado assim.
Dormi em mil ilhas
onde os livros eram árvores

e as árvores eram famílias.
Ouvi uns passarinhos
cantando como sinos.
Usei calças de flanela
E caminhei nas bordas do inferno.
Morei numas cem cidades
onde as árvores eram livros.
Que metrôs que táxis que lanchonetes!
Que mulheres com peitos cegos
bucetas perdidas entre arranha-céus!
Vi as estátuas dos heróis nas praças.
Danton chorando na entrada de um metrô
Cristóvão Colombo em Barcelona
apontando para o ocidente
na direção do Expresso Americano
Lincoln em sua cadeira de pedra
E uma Grande Cara de Pedra
na Dakota do Norte.
Sei que Colombo
não inventou a América.
Ouvi falar de uns cem Ezra Pound fudidos.
Deveriam ser libertados todos eles.
Faz tempo que eu era da manada.

Levo uma vida sossegada
no Bar do Mike todo dia
lendo os classificados.

Li o Reader’s Digest
de capa a capa
e observei a identificação

entre os Estados Unidos e a Terra Prometida
onde toda moeda traz marcado
In God We Trust
mas as notas de dólar não
elas são deuses por conta própria.
Li as listas de Procura-se todo dia
procurando uma pedra uma folha
uma porta secreta.
Ouço os Estados Unidos cantando
nas páginas amarelas.
Ninguém diria
a alma tem suas fúrias.
Leio os jornais todos os dias
e vejo gente perdida
nos tristes meandros da imprensa.
Vejo onde o lago de Walden foi secado
para dar lugar a um estacionamento.
Vejo que estão fazendo
Melville engolir sua baleia.
Vejo outra guerra vindo
mas não vou estar lá para lutar.
Li a frase no muro da casa.
Ajudei o Juquinha a escrevê-la.
Subi a Quinta Avenida
tocando uma corneta num pelotão
mas voltei às pressas até o Casbah
procurando meu cachorro.
Vejo uma semelhança
entre cães e eu.
Cães são os verdadeiros observadores
pra lá e pra cá no mundo
atravessando o país.
Desci ruelas
estreitas demais para cadilaques.
Vi cem carroças de leite sem cavalo
num terreno baldio em Astória.
Bem Shahn nunca fez um quadro delas
mas elas estão lá
parte da história.
Ouvi o muito obrigado do drogado.
Cruzei superhighways
e acreditei nas promessas dos cartazes
Atravessei os campos de Jersey
e vi as Cidades da Planície
E chafurdei nos descampados de Westchester
com seus turbulentos bandos de nativos
em carroções.
Eu os vi.
Eu sou o homem.
Eu estava lá.
Sofri de alguma forma.
Sou um americano.
Tenho um passaporte.
Não sofro em público.
E sou jovem demais para morrer.
Sou um homem que se fez sozinho.
E tenho planos para o futuro.
Estou na fila
para um posto lá no alto.
Pode ser que eu esteja indo
para Detroit.
Só por uns tempos
estou vendendo gravatas.
Sou um joão-ninguém.
Sou um livro aberto
para meu patrão.
Um mistério completo
para meus amigos mais íntimos.
Levo uma vida sossegada
no Bar do Mike todo dia
olhando para meu umbigo.
Sou uma parte
da longa loucura do corpo.
Vaguei pelas florestas da noite.
Me encontrei em portas bêbadas.
Escrevi histórias selvagens
sem pontuação.
Eu sou o cara.
Eu estava lá.
Sofri
de alguma forma.
Sentei numa cadeira incômoda.
Sou uma lágrima do sol.
Sou uma colina
onde os poetas correm.
Inventei o alfabeto
depois de contemplar o vôo das gralhas
que formavam letras com suas pernas.
Sou um lago na planície.
Sou uma palavra
numa árvore, escrita numa árvore.
Sou uma colina de poesia.
Sou um safári
ao inarticulado.
Sonhei
que todos os meus dentes tinham caído
mas minha língua vivia ainda
para contar a história.
Pois sou um alambique
de poesia.
Sou um banco de canções.
Sou um pianista
num cassino abandonado
numa esplanada à beira-mar
numa neblina forte
sempre tocando.
Vejo uma semelhança
entre a Mulher que Ri
e eu.
Ouvi o som do verão

na chuva.
Vi garotas nas calçadas
ter sensações complicadas.
Compreendo suas hesitações.
Sou um apanhador de fruta.
Vi como beijos
causam euforia.
Arrisquei bruxarias.
Vi a Virgem
sobre uma macieira em Chartres
e Santa Joana queimada
em Bella Union.
Vi girafas em trapézios
os pescoços como o amor
ferida em torno das circunstâncias de ferro
do mundo.
Vi Vênus Afrodite
sem braços no corredor.
Ouvi uma sereia cantar
na Quinta Avenida.
Vi a Deusa Branca dançando
na Rue des Beaux Arts
no Catorze de Julho
e a Bela Dama Sem Misericórdia
assoando o nariz no Chumley’s.
Não falava inglês.
Tinha cabelos amarelos
e uma voz rouca
e passarinho não cantava.
Levo uma vida sossegada
no Bar do Mike todo dia
olhando os que apostam na loteria
compondo a cena minestrone
devorando macarrão
e eu li em algum lugar
o Significado da Existência
mas esqueci
exatamente onde.
Mas eu sou o cara
E vou estar lá.
E posso fazer os lábios
daqueles que dormem
falar.
E posso transformar meus cadernos de notas
em folhas da relva.
E posso escrever meu próprio
epitáfio epônimo
instruindo os cavaleiros
que passam.
* extraído do livro Coney Island of the Mind, traduzido pelo grande Paulo Leminski.

sábado, 6 de agosto de 2011

BLAS-FÊMEA ÀS MARGENS DO ATLÂNTICO (por Pirro)
















Se eu não te ver de novo, baby
minha navalha irá beijar
como um gato preto
a pele de réptil de suas fantasias,
e aí deixarei o sol invadir meu cérebro
e me queimar com todos
os copos de aguardentes
que nos sacodem e nos fazem vibrar.
Quando você menos esperar, baby
Estarei à meia-noite
batendo em sua porta
e cobrando o aluguel
do eterno silêncio que você me confiou,
esteja com quem estiver,
o sátiro rirá dos receios em suas caras.


Sei de seus desejos, baby
tão escuros como a noite no sertão,
sei de seus traquejos e de seus medos
sei de seus uivos às duas horas da manhã
inquieta como uma cadela no ví-cio
quando tem sede e tem fome.
Sei de seus crimes e de suas angústias
quando os senti como um cúmplice
enquanto o vento do Mar Atlântico
sacudia seus cabelos surrados
e soprava dentro de meus olhos.


Sabemos que um dia ainda
nós vamos nos bater por aí, baby
sabemos que nos olharemos de novo
sabemos que sentiremos uma fisgada
como gosto de sangue e gozo
expurgado de seu a-braço
em meio à fumaça filada
que sai de minhas narinas.

Sabemos que toda brincadeira
no fundo pode se tornar verdade,
sabemos que muitas mentiras
são pegas com as calças no chão,
e que você incondicionalmente
está na mão do Destino
que sorri sozinho
num canto escuro da cidade,
onde as luzes dos postes
não podem tocar...
Lá onde repousam graves segredos
de uma Blas-fêmea
sob a máscara de Pandora
reluzindo nas areias da Aruana
às margens do Atlântico.

AUTOBIOGRAFIA (por Camila Pequena)

"Porias o universo inteiro em teu bordel" (Charles Baudelaire)
Sou impressionável, Emotiva e objetiva,
Tímida e intolerante,
Caprichosa e negligente
Melancólica,
Independente
Inconvencional.
Mas que diferença isso faz?
Eu sou só uma puta que teme o ridículo.
Minha poesia sou eu
E eu sou puta.


Sou pobre, muito pobre,
Alguns dizem que minha alma é ainda mais
Fodam-se – todos –
Gosto de gente intelectualizada
Engraçada, divertida
Mas quando elas me querem
Só querem a mim, puta.


Minhas atividades são enérgicas,
Entusiásticas
Sou uma empreendedora,
Mas tudo é breve
Minha infância passou logo
Minha adolescência começou e acabou cedo
E eu não sou adulta
Sou a pobre, puta, infeliz
Que teme a vida, a morte, a vida
Que teme a velhice
Por que puta velha é nada...
E que odeia ser pobre
Odeia ser puta
Odeia não ter nada
Mas adora sexo e dinheiro


Quer saber?
Fodam-se todos.
Inclusive o que não falam nada
Os intelectuais, engraçados
Eu sou sempre comprada e descartada
Porque são todos fracos
Que precisam me comprar
Que precisam me usar
Fracos! Fracos! Fracos!
Pobres de vocês e de mim...


Eu sou um receptáculo
De esperma
De medos
De desejos
De angústias
Porra!
Eu sou puta


Um receptáculo humano
Confortável,
Seguro
E acolhedor.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

ASSIM EU FIZ, ASSIM EU QUIS (por Pirro)


"Sisifus the faculties" (1914), pintura de Max Klinger

Sobre os meus ombros
os dias passam como essas ruas
                 de sábados no Bugio.
Sobre os calos de minhas mãos
repousa um copo de cerveja
como uma ode de Walt Whitman
                  depois dos combates
                              contra as merdosofias
afinal, o guerreiro merece uma saudação.


A alma devorando e cuspindo
os momentos sensacionais
em que nossos bons olhos
            redimem o mundo
              detonando os pessimistas
               e aceitando o destino
                  e seus cânticos de batalha.
Acasos, romances, delírios,
duros bocados, alegrias e fortitudes
                cimentam
            o meu caminho
de sangue, suor e esperma.


Na linguagem de meu corpo
falam através de séculos
          meus pais e avós
          cujo eco de potência e fibra
estronda as paredes dos meus sentidos:
“só se consegue mudar o mundo
                       com a força do exemplo”.


Aviso então aos navegantes
da nossa modernidade
             que os excessos de palavras
                    podem atrofiar a língua.
Basta um gesto
e estamos criando a liberdade
Basta a vontade de criar
e afirmamos às marteladas:
assim eu fiz, assim eu quis
Fodam-se os tribunais da consciência
                     e da moral relespública!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

ESPÍRITO DE SÁTIRO (por Pirro)



Sou um animal 
dotado de faro racional
porém, em meu sangue 
corre todos os contrários
diabólicos da natureza
como mar na loucura da ressaca
por isso, não vou para a igreja
nem academia de ginástica.
Vocês me entendem, 
espíritos puritanos?
Sou paixão, devir e iconoclasta
como um verdadeiro
discípulo de Dionísio

quinta-feira, 21 de julho de 2011

DESTINOS (por Pirro)

Cena do filme A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'aube, 2008), do diretor Philippe Garrel.




















                                                             Para Mary
A noite surgiu
no acender das lâmpadas:
nos encontramos na sala, baby
tão próximos, tão distantes
         como dois animais exóticos
         encurralados contra a parede
         de nosso próprio pacto diabólico.
Enquanto Rilke me revela a vida
sorrindo pro Aberto do mundo,
você saboreia a novela das oito
esparramada sobre o sofá
na fantasia de um happy end.


We're chained, baby
no (des)encontro e contra-choques de nós:
passamos tagarelantes ou silenciosos
poucas vezes de mãos dadas pela rua;
nos atracamos pelos cabelos e pentelhos
       na escuridão de nossos segredos
       confissões e degredos
       sob os lençóis
       de uma madrugada fria.
Que imagem tão comum:
eu de cueca
matutando com o mundo
e você de calcinha
sonhando debruçada
sobre os rabiscos de futuros planos.


Já é dia:
como as estações
         passam apressadas!
Você pega o táxi-de-lotação
        e segue seu caminho
        como uma abelha-operária
        muitas vezes entediada,
dizendo que "o mundo é cruel",
e se fazendo de "defunto
        pra meter o dedo
        no cu do coveiro".
Eu pego o ônibus coletivo
e corro para os combates
       de todos os dias
matando um leão feito açougueiro
para tentar recriar
        novos valores, novos sentidos
        novos amores, novos ódios
        novas trocas e fatias
com cheiro de pó e fumaça da terra,
entre delírios poéticofilosóficos,
               tubos de biritas, livros e canções.
Mas apesar de tudo
e antes que a terra me chame de volta,
“as difíceis palavras”
que engasgaram Bukowiski,
eu também as digo
depois de muitos engasgos,
                          silêncios
                               e
                          paranóias:
                        “eu te amo”.

terça-feira, 12 de julho de 2011

SÓ SEI QUE NADA SEI DE MIM, SENHORA FELIZ... (por Pirro)


Fotografia de Hernany Caburé





















Só sei que nada sei de mim, Senhora Feliz
Cidade das pedras frias dos homens
Mandacaru sob os meus pés
Acri Clube de "tabocas"
Presenteadas por garotas prendadas
Tão lindas de morrer
Em noites de cervejas e Hi-fi
Sob os embalos de sábados
Ouvindo e dançando Boys don't Cry
É a memória fincada em meu corpo, Senhora Itabi
Na dureza antiga e sertaneja
Das Pedras da Paciência,
Que me ensinou a ser-tão
Simples matuto do mato
Como um jegue matando o tempo
No cair do crepúsculo de suas ruas.
                                                                                                      (Pirro)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

EM DIA DE CACHORRO LOUCO (por Pirro)

Benicio Del Toro - fotografia do filme neo-noir Sin city - a cidade do pecado (2005), dirigido por Roberto Rodriquez.

             Era sábado nublado. Aqui e acolá, caía uma chuva fina, o suficiente para encharcar a cidade. Celso Blues Boys tocava Sempre brilhará. Solange falava dos planos que ela tinha na manga para 2011 e 2012. Falava em ter um filho, fazer um curso universitário, colocar silicone nos peitos ou comprar um carro. Toda a sua conversa me deixava pensando. E quanto mais pensava, eu queria que o mundo parasse, ou, pelo menos, os homens e mulheres deixassem de tanto correr nessas avenidas de concreto. Na verdade, eu só queria ouvir música, não queria saber de problemas e por isso cantava como um bluesman, no sinal fechado da Av. Santa Gleide: “estou deixando o céu, rumo ao inferno”.
          O sinal abriu e entrei à direita, para pegar a Av. Tancredo Neves, depois contornar o viaduto e seguir pela Osvaldo Aranha em direção ao Centro, aonde eu iria deixar Solange no trabalho. A cada passada de marcha, minhas mãos deslizavam pelas coxas de Solange, enquanto brincava com ela, falando-lhe bobagens afetivas.
          A 500 metros, parei no sinal vermelho do D. Pedro, papeando com minha bela fêmea como um verdadeiro homem da encruzilhada. E como a vida de vez quando lhe faz careta, eu não sabia que estava sendo laçado pelo inesperado no virar da esquina. À minha frente, havia dois carros emparelhados e os dois pilotos conversavam descontraidamente como se fossem bem chegados. O sinal verde sorriu para nós, e os dois amigos permaneceram parados, batendo papo à vontade, impedindo a passagem. O Corsa do lado se coçou esguichando buzinadas e os amigos não estavam nem aí. Olhei para Solange, dizendo-lhe que não acreditava no que estava vendo. Mordendo os dentes como um cão, me fixei de novo nos dois amigos filhos da puta. De um surto, também fiz meu Siena esguichar buzinadas de raiva, mandando o pai daqueles filhos da puta para o inferno. Eles foram saindo devagar, conversando como se estivessem no seu próprio chiqueiro privado, ouvindo pagode com suas porcas burras. Aí eu pensei: “isso vai dar merda!”. Meu sangue já estava fervendo, e eu ali não estava mais por mim, mas pelo cão renascido das minhas próprias entranhas, querendo fazer caçadas no cimento.
          Solange segurou em meu braço pedindo calma, larguei a mão dela e peguei a PT. 40, que estava entre minhas pernas no banco.
“Caralho! não é possível...”
“Calma, porra, calma!”, pedia Solange já nervosa, sacudindo os braços.
“Você não tá vendo esses filhos da puta...”, eu nem conseguia falar. Só conseguia buzinar. Buzinadas a granel, vomitei pelos retrovisores de vidro do meu carro, agitando a PT. 40 no ar, tentando a todo custo seguir meu destino. Mas havia a pedra de Drummond no meio do caminho, pois os dois amigos subiam a Tancredo Neves bem lentos e tranquilos, como se estivessem testando minha paciência de cachorro louco.
“Esses filhos da puta, Solange, não sabem com quem estão brincando”, eu consegui dizer, enquanto pensava mil planos diabólicos.
          Quando passamos por baixo do viaduto, o da Fiorino acelerou o carro e partiu, enquanto o do Gol vermelho foi seguindo bem à vontade, lento como um sapo, justamente na mão em que eu estava. Quando tive oportunidade, emparelhei o meu carro com o dele e apontei a PT na cara dele:
“Filho da puta, sabe o que você está fazendo!? Filhodaputa filhodaputa filhodaputa...!
          Ele sorriu e simplesmente chupou o dedo e apontou pra mim “Aqui ó, seu otário!” Foi a gota d’água. Manobrei meu carro para a frente do Gol vermelho e tranquei o engraçadinho. Parei, liguei o pisca de “alerta” e desci do carro fumaçando. Solange tentou me segurar e eu disse:
“Fique fria! É só uma liçãozinha”
          De modo rápido, já fora do carro, me voltei e apontei o ferro para o do Gol vermelho:
“Vamos filho da puta, sai do carro!”
          Ele pálido como uma banana, fingiu não entender nada, levantando as mãos como quisesse dizer o que foi que eu fiz.
"Bora, filho da puta, desce do carro”, gritei de novo.
“Calma, cara. Calma... ca...”
“Calma, caaara! Minha garota já me disse isso, seu filho da puta. Desce do carro viado fuleiro!”
          Ele abriu a porta e começou a sair do carro. A chuva começou a cair mais forte e passavam poucos carros pela Tancredo.
“Com as mãos nos chifres, se não arranco eles!”.
          Quando ele desceu, pedi que se aproximasse. Ele se aproximou com as mãos na cabeça e apontei o cano para sua testa e olhei em seus olhos. Ele estava tremendo feito uma vara verde.
“Você já assistiu Onde os fracos não têm vez, seu filho da puta?”
“Não... nem sei...”
“Sabe quem é Javier Bardem, pagodeiro de merda?”
Não... nem sei do que...”
“Você não sabe de nada, seu porco ignorante. É um filho da puta que gosta de Aviões, Harmonia do samba e Chiclete com Banana, se proclamando “o putão”. Um ignorante de uma figa, que não entende de nada, né, animal de rebanho!?”
          O zé mané ficou sem saber o que dizer, tremendo na base.
“Acabe com essa história e vamos embora, Messias”, Solange gritou de pé na porta do Siena.
          Dei uma olhada no seu Gol vermelho, parecia novinho em folha. E então mirei no capu.
“Não, cara, pelo amor de Deus, não faça isso!”
          Analisei aquele lindo Gol vermelho que brilhava como uma Ferrari, e o nome vazio de deus refletia nele.
“Ok, man, como queira. Ele parece ser mais valioso...”
          Sem contar história, mirei nele e atirei. O boneco despencou do alto de sua vidinha insignificante e seu corpo caiu tremulando como a bandeira das Nações Unidas no asfalto encharcado da Av. Tancredo Neves. Enfiei a pistola debaixo da camisa e voltei para meu carro. Engatei a primeira e acelerei, com o coração batendo como mil tambores primitivos. Solange se abraçou comigo e recoloquei Sempre brilhará para tocar no meu Pioneer. Comecei a cantarolar, como um bluesman da encruzilhada, enquanto seguíamos nosso destino sem-volta...
"as coisas são assim
pra que se lamentar
se dentro de nós
sempre existirá
sempre existirá"

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ODE AO ESPÍRITO MARGINAL (por Pirro)


Johnny Cash, por Jim Marshall.





Para Sérgio Dedão, Vardeleno de Assaré, Beto Oão, Clark Bruno, Marcelo Paulista e Caburé. A todos os espíritos revoltados.








Meus camaradas, quando os nossos punhos
vibram nos quatro ventos
a Terra pulsa abaixo e dentro de nós
como um acorde de Rock and roll
ecoando alucinado em nossas veias.
Diante de nossos versos (in)decentes
os vermes da tartufice se enfiam
debaixo do tapete e rezam
como lesmas sacrossantas
para que os seus deuses nos apedrejem.
As baforadas de ervas e bate-papos
nas tardes de biritas e preleções nietzschianas
significam o renascimento do mundo
sobre as cinzas dos fantoches e fetiches
de nossa civilização arrogante.


Não pretendemos salvar a humanidade
porque a humanidade nunca esteve perdida
ela apenas deu corda aos seus próprios fantasmas.
À margem de qualquer pregação
apenas vivemos dançando bebendo lutando
por um lugar ao sol
no cimento inabalável dos dias
subindo e descendo as ruas
cheias de nervos e eletricidade.


Pouco importa a nós, meus camaradas
esse bando de Jeremias tateando o nada
engolindo as promessas dos promotores
da política e da (agri)cultura do rebanho.
A química de nosso estômago e artérias
consiste nas fibras de relâmpagos e trovões
temos colhões, o mundo e as mulheres
estão do nosso lado
porque sempre estaremos cantando
suas paixões mais vitais –
todas as coisas, acasos, acontecimentos
e impulsos telúricos falam
a nossa língua  além-do-bem-e-do-mal.
Os eunucos de deus já estão mortos há tempos
seja em Aracaju, São Paulo, Paris ou New York;
suas rezas e seus ideais prontos e acabados
foram soterrados pela bomba-relógio da história.


Os socos nas paredes do atraso mental,
a galhofa de sátiro dando pinotes
dentro e fora de nós,
o olhar de carcará do nosso espírito
copulando com as dissimulações sadias,
o jogo de cintura e as esporas
que trazemos afiadas para conduzir
as modernas bestas de carga -
tudo isso foi sacado por nós
por força ética de nossos bons modos
que cheira como o estrumo das ruas.


O coração bate a mil por hora
como tambores primitivos,
o corpo parece bandeiras multicoloridas
tremulando num Fla-Flu com estádio lotado,
quando temos a vida e o mundo do nosso modo
com torcida feminina e tudo.
Ah, essas bucetas sagradas
que tocam fogo no mundo
desfilam pelas avenidas da cidade
contemplando as vitrines de seus sonhos
como se estivessem tecendo
uma armadilha para seus amantes;
que ficam doidos por esses belos demônios
como os benditos poetas-santos de Xiva
que vieram percorrendo “mundos impossíveis”
pelas maravilhas-de-saia através dos séculos.
E assim, todo o mundo que se alarga além de nós
ressuscita na eterna aliança dos amantes
que se lançam na licença poética
de suas trepadas mais intensas.


Nós, os carpinteiros da vida
construiremos um santuário
com nossas fêmeas mais nobres
no centro de um imenso vinhedo
para que possamos nos sábados à noite
fazer a festa nos becos do universo;
e deixar que a natureza copule
em copos cheios e férteis
para que nesse planeta heterossexual
um novo homem e uma nova mulher
venham à luz e perpetuem as crias mais dotadas
em torno e além de si na imortalidade do sangue.


Na verdade, meus camaradas
o futuro é onde estamos
já somos seu ancestral;
os filhos da geração fodida
a deitar por terra todos os valores
que até hoje fizeram do bicho-homem
uma ameba neurastênica.
Já somos em qualquer canto do mundo
os grandes animais que arrancaram
as máscaras de ferro de todas as condutas exemplares:
cuspimos educadamente nos altares pomposos
e nos curamos do veneno dos piratas da moral.
Temos agora a saúde dos convalescentes
que cavalgam para o Aberto mundano de Rilke
onde o doce e o sal da travessia é experimentado
e vivido com a mesma intensidade
sem a acusação do tribunal da consciência.


Somos nós a algazarra dos libertinos
e a prudência dos transgressores
atados pela ponte do destino.
Nossa bravura marginal, my brothers
é redimir a Terra-mundo das dívidas e dúvidas
como quem fuma seu cigarro
observando as correntezas do Rio Sergipe
e ouvindo a velha filosofia do Mercado Central.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

RIMBAUD (por Marcelo Primo)

(Rimbaud)






















Furor poético, furor prático,
Anseio por um mundo não-estático,
Tensão amorosa, tensão familiar,
Entre as armas e o criar,
Típica temporada no inferno,
Onde absolutamente nada é terno.

Em Charleville ou na África,
A inspiração nunca fôra esporádica,
De tiros líricos a tiros passionais,
Agora a métrica se desfaz,
Pois a rebeldia dá o tom,
Arthur, pura impetuosidade e frisson.

Agradeças à Virgem Louca,
Tua criação não é coisa pouca,
Mesmo sendo um raio, um instante,
Tuas obras foram o bastante,
Para implodir o marasmo po(i)ético,
Seja literário, seja estético.

Em Marselha chegaste ao fim,
Mas foste tu que quiseste assim,
Pobres agora somos nós,
Vítimas da inércia, o pior algoz,
De quem procura o original,
Rimbaud, sempre serás sem igual...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

PROSÁICA DO BOM PASTOR (por Pirro)

  (Desenhos by Milo Manara)
Jesus, busquei a ti
movido pela sagrada gana
preciso de dinheiro e fama
            vendendo tuas parábolas    crucificadas
sugando o tutano do teu sangue
como um velho canibal tupinambá.

Jesus, busquei a ti
preciso comprar uma chácara
com piscina azul e mesas ao sol
fazer um harém
com mil putas serenocínicas
e sacrificurrá-las em teu nome
pois sou o bom pastor
de tuas ovelhas
e nada nos faltará.

Jesus, busquei a ti
como está no Apocalipse
tu és o Lúcifer de minhas obras,
no reino universal da Terra.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

MODUS VIVENDI (por Marcelo Primo)


"Portrait d'Arthur Rimbaud", by Picasso.
Dispensando afetações nas maneiras
De pensar, falar e agir,
Sigo minhas próprias pegadas,
Cagando para o porvir...


Se meu alimento fosse a opinião alheia,
Eterno grilhão da autonomia,
Ficaria menor do que um grão de areia,
Sucumbindo ao coro da maioria...


Todavia, sou um Maldoror alucinado,
Um outlaw tresloucado,
Primando pela individualidade,
Descartando o aval da coletividade...


Fazendo o que, quando, e como quiser,
Errante, sozinho, ébrio de lucidez,
Não podendo somente não escolher,
Pois só se nasce apenas uma vez...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

VÔ-MITO SU®REALISTA (por Pirro)

The flame (1934-38), by Jackson Pollock.



















Somos como as ondas do mar
somos como o vento
que faz piruetas nas ruas e quintais
meu sangue borbulha,
minha boca baba
minha carne treme
e o tempo passa...
voa... volta... voltz...
eterna repetição do mesmo
eletrochoque na mente
ácidos nas veias
o velho ressoar de vozes,
            de trocas, de carícias
um doido na esquina rumina
um mendigo sentado na calçada
come um pão velho
uma dama de vestido verde
e pernas fantásticas passa na Beira-mar
os operários da futura mansão da 13
fazem caçadas no cimento
e um deles mira a pérola:
“É verde, imagine
quando tiver madura!”
um fanático religioso prega no ônibus
um sujeito boa pinta sofre de amor
um outro mata friamente
o pobre come o biscoito
da inimiga ignorância
a guerra explode no Iraque,
Um sanguinário armado até os dentes
sai matando inocentes in nomi dei
nos becos e malocas do mundo
E coitado do diabo é o culpado!
os degustadores bebem
a cerveja cômoda de suas vidas
enquanto os honrados políticos
fodem com o mundo
e gastam com suas belas putas.


Lá na frente
encontros
encontrões
desencontros
um girar de sensações
e pensamentos desejos
fundos secretos conflitos
de rajadas e bombas
histórias de traição e crimes
histórias de ganância,
reluzindo como bronze
na cara dos parasitas do Estado,
como ouro em pó
na face colgate
do sombrio sorriso uruburguês.


Tudo isso
irá retornar amanhã?
e tudo isso vai passar
mas irá se repetir?
a cada lance de dados
nas veredas e ruelas do mundo
ser e não ser
é e não é
unidade da contradição humana?
Onde deus? Onde o demo?
Cadê o Messias que não chega?
k k k k
         k k k k
                  kkkkk
                          kkkk
O palhaço ri e dá cambalhotas
nos circos da vida severina
segunda feira de 2010
poderia ser século I antes de Cristo
e ele não deveria nem ter nascido
poderia ser 3010
o devir do mesmo misturado.
Estamos no mesmo barco
e nunca no mesmo rio,
a qualquer momento poderemos afundar
a não ser que o derrubador de ídolos
se rebele nas trincheiras de uma guerrilha
e os políticos e religiosos
sejam enforcados
com seu próprio
                         OLHO grande
                             e sua
                         MÃO oculta
                                   mais-valia
                                   máscara
                                   medonha.