Panóptico

quarta-feira, 7 de maio de 2014

POR UM INSTANTE E SETE DIAS - por Pirro

O último julgamento, de Michelangelo.
















Uma virtuosa e douta jararaca
de barba e cabelos brancos
me pegou de peito aberto
e mordeu meu calcanhar de Aquiles.
Por instante, seu veneno
do tamanho de um hipopótamo
paralisou meus neurônios
e tentou corroer minha língua.
Sua pele se despregou de seu corpo
um ancião surgiu cantando de galo.
E com medo do mar e da morte
apontou seu dedo bíblico para mim,
jogou pedras de pragas em minha cabeça e disse:
“Um dia, verei um côco - da teoria da relatividade -
cair em sua cabeça; você dobrando seus joelhos e rogando:
Senhor, perdoe este servo medíocre, que caiu em pecado”.

Por setes dias, senti os efeitos do seu veneno.
Por sete dias, olhos constrangidos
me gretavam de Judas Iscariotes.
Por sete dias, Lilith cantava a música dos revoltados.
Por mais sete dias, fiquei injuriado como Caim e Esaú.
Por mais sete dias, o mendigo Édipo batia em meu peito.
Por mais sete dias, me curei e me convalesci:
um Aquiles nasceu de novo pintado de tupi
vibrando seu martelo e seu punhal
pronto para escalpelar
os virtuosos doutos e seu jararaco deus.
                                                                                 (Pirro)

quinta-feira, 13 de março de 2014

CRÔNICA DA VIDA ORDINÁRIA

OS FILHOS DE DEUS

"Thinker on a rock" (Barry Flanegan)
Estava um dia lindo... Lindo porque o clima parecia suave como uma velha cachaça mineira degustada com caju; e o céu estava meio nublado com indícios de chuva. Senti vontade de dar beijos nas faces da terra e distribuir bons-dias para todos os que passavam por mim.

Subi a Rua Poço do Mero em direção ao Centro da cidade. Carros atrasados e, por isso, apressados, buzivavam para eu sair da frente. Eu saltava para a direita, e eles passavam zunindo em meus ouvidos. Eu contemplava de todos os ângulos a fauna humana civilizada e dizia para mim mesmo: como esses bonecos são tão egoístas tanto quanto seu deus!
    Na esquina do canal de esgotos do D. Pedro, ao lado do Mundo da Construção, eis que eu estou parado esperando o melhor momento para pegar a Avenida Tancredo Neves, um Agile preto veio pela esquerda e avançou agilmente. O som que vinha de dentro daquela praga era monstruoso. Era música de mau gosto, e para piorar, o som era ruidoso e grave como se os alto-falantes estivessem furados. O Agile postou-se como se fosse me trancar. Olhei para o motorista. O mulato, de óculos azuis brilhantes e com cara de cristão pagodeiro, não estava nem aí. Fiquei olhando para ele balançando a cabeça como um calango. Logo que a pista ficou livre do trânsito intenso, que vinha dos diversos redutos da Zona Norte, ele avançou queimando os pneus e passando em minha frente, impedindo meu avanço. Depois que ele passou, eu acelerei. No fundo do Agile havia uma frase escrita: “Não tenha inveja de mim. Esse foi Deus que me deu”. Acelerei meu carro até ficar lado a lado com o sortudo. De propósito, fiquei olhando e admirando aquela massa humana interessante. O passageiro que estava com ele, ao me ver passando, cutucou o amigo. Este esticou seu pescoço, arregalou o olho esquerdo e disse gesticulando com delicadeza:
“O que tá olhando, otário! Vá se foder, seu filho da puta! Mané!”
Como o dia estava lindo e havia entrado em minhas entranhas como um sopro de fiat lux, eu ri e mandei um beijo para ele, seguindo meu caminho contornando o viaduto para entrar na Avenida Osvaldo Aranha.
Entrei com cuidado, sem muita pressa, na mão-direita da Osvaldo Aranha. Olhei a cidade de cima do viaduto e o dia estava - como os meus cabelos - leve e solto. Deu vontade de me lançar no horizonte para além da Barra dos Coqueiros ou quem sabe lá para os lados de Pirambu, e mergulhar na Lagoa Redonda de córregos cristalinos, que são como os olhos de Cecília Miron... Talvez fosse um desejo de fuga para um sonho bucólico. Talvez uma espécie de fobia pelo convívio social... Talvez... mas, pelo menos, alguns dias de fuga poderiam me garantir um relaxamento verde e um breve esquecimento de nossa admirável civilização.
Parei no primeiro sinal da Osvaldo Aranha. Pelo retrovisor interno, eu vi um taxista apontando seu dedo para mim. Parecia ser um dedo rígido e grande como o Dedo de deus que se estende acima da Serra dos Órgãos. Era um galego de cabelos escorridos e tinha cara de ceboleiro. Não entendi por que ele estava apontando seu dedo em minha direção. Por um momento, tive dúvidas se aquela demonstração de amor-ao-próximo era lançada sobre minha face ou se era para outro felizardo.
O sinal verde abriu, como se a esperança tivesse acordado de um pesadelo profundo e tentasse unir os bichos no asfalto da vida moderna. Acelerei o carro levemente, e de modo progressivo. Nisso, o taxista ultrapassou pela esquerda e urrou:
“Vá dirigir carroça de boi, seu corno manso”.
Balancei a cabeça como um calango: hoje é o dia! Eu falei para mim mesmo, Hoje é o dia!... O cara arrancou com tanta velocidade que nem deu tempo de mandar-lhe um beijo, importado de Queriote. Respirei fundo e segui como se nada tivesse acontecido, afinal o dia continuava lindo, embora o tom cinza já começasse a contaminar meu estômago.
Peguei a Rua Mariano Salmeron e passei os sinais verdes das ruas Acre, Sergipe e Bahia. Na mesma mão direita da via, parei no sinal vermelho da Rua Pernambuco com a Salmeron, atrás de um táxi de lotação do Parque dos Faróis. No para-brisa traseiro, havia uma imagem de uma santa envolvida por um rosário. Ao lado da imagem, lia-se uma sábia frase: “Tudo posso naquele que me fortalece”, e um pouco abaixo da frase um letreiro bem grande: “DEUS”. Sacudi minhas sobrancelhas: só pode ser coisa de pobre... pobre de espírito, com essa mania de colocar frases-clichês nos para-brisas de seus automóveis, pensei com um meio-sorriso atravessado na boca.
O sinal verde deu o ar de sua graça. E, então, o táxi de lotação ficou parado onde estava. Quando aprumei a vista, eu vi: lá estava o dedo apontado para mim com toda a civilidade do mundo moderno. O táxi foi saindo lentamente como uma tartaruga de metal. Num acesso de bicho, girei rapidamente o volante para a direita e passei por ele. Instantaneamente, girei para a esquerda e tomei a frente raspando a frente do táxi trancando o filho de deus. Minha intenção era assustá-lo. Acelerei o carro e atravessei a linha férrea da Avenida Rio de Janeiro tentando seguir meu caminho.
Depois que peguei a Rua Laranjeiras subindo em direção ao Centro, olhei pelo retrovisor traseiro não vi sinal do táxi de lotação. Minha cabeça já estava dando vertigem. Na altura do Bairro Cirurgia, passei a mão nos meus cabelos leves e soltos, e pensei: “Calma, cara, calma. O dia está lindo e não merece ser estragado. Você é um bicho racional... racionalize e pense com quantos paus se faz uma canoa, para que você possa nadar no horizonte da Lagoa Redonda”. Então, respirei fundo descendo a Laranjeiras.
No cruzamento da Rua de Siriri, onde as antigas prostitutas de Amando Fontes exorcizavam o fantasma da Ordem e do Progresso, olhei de novo pelo retrovisor e avistei o taxista do lotação fortalecido pelo seu deus, apontando seu dedo para mim, como quem dizendo “você está fodido”. De repente, ao chegar ao sinal da Rua Propriá com Laranjeiras, o filho de deus acelerou sua máquina e passou rente a porta do meu carro me chamando de filho da puta e me trancando. Tive que frear bruscamente para não bater na lateral do táxi. Suei frio e fiquei atônito, com o ódio estampado em meu rosto. O sinal abriu e ele acelerou desaparecendo de minha vista. Fiquei ali parado com os carros, atrás de mim, buzinando em minha alma engasgada... Passei a mão pelo meu rosto, acelerei o carro e segui em frente sem esperar mais nada de proveitoso do lindo dia. Enquanto eu pegava a Rua Capela, lembrei do Messias. Como eu desejei ser o Messias!... Pistoleiro, sim; mas, também, matador de valentões.

sábado, 20 de julho de 2013

MULHER DE CONTABILIDADES - por Pirro

"Números e constelações em amor com uma mulher" (Joan Miró)





















Você, mulher de contabilidades
a beleza geométrica de suas planilhas
não consegue calcular a somatória
de meus desejos somáticos
seus encantadores olhos matemáticos
não enxergam as estrelas
que brilham no porão do meu corpo
onde você se encontra
com sua buceta suculenta
cuja memória me deixa 
                            com água-na-boca.

Você, mulher de ousadias e coragens
em rápida e breve passagem
passou feito a desconhecida de Baudelaire
deixando nas paredes de meu ser-tão
o eco de seu sorriso e de sua voz.

Você, maravilhosa paraense,
consegue medir o que um homem sente
quando se encontra perdido
além da exatidão dos números?

Vem cá, flor de croatá, me diz:
existe sexo por osmose platônica...?
Não sou Platão nem tampou’Camões
estou para os poeta-santos de Xivas
             na medida
       em que me'quilibro
                entre suas coxas
sob o nordestino sol do litoral.

sábado, 13 de julho de 2013

TODO DIA É DIA DAS MÃES (Sergio Dedão)

Maternidade - por Pablo Picasso


Para minha amada mãe
Miriam
















Todo dia é dia das mães
Que alimenta dentro de seu corpo
Que fecunda, gera e da à luz-vida
Que amamenta o garoto de sorte
Que beija antes e depois das trocas de fraudas
Que acorda a cada três horas
Que introduz o alimento
Que educa nos primeiros passos da vida
Que leva à escola
Que deixa o jantar para depois da escola
Que aprende a ler, escrever e contar juntos
Que ensina valores e crenças
Que cuida das feridas e das altas temperaturas
Que não dorme enquanto seu filho não chegar
Que dividi e compartilha sonhos, melhor que soma sonhos
Que o vê crescer mas sempre o vê como criança
Que o beija como bebê mesmo depois de “grande”
Que o observa crescer, casar e ter filhos
Que você se vê nele ninando a cria
Que você sempre seja minha eterna mãe
Que me cubra de beijos e me faça querer ser criança
Pois sob o céu estrelado sempre gritarei: “MAMÃE !” – bem alto.

Sergio Ricardo – Coordenador – 09/05/2013

sexta-feira, 14 de junho de 2013

VÊNUS FATALE - por Pirro

by Milo Manara                                                            
                                                       
Em Teresina
No centro do Ser-tão
Cavando uma mina
Longe do meu portão
Meio doido por Paragominas
Sem saber se sou eu
Enroscado
Nos cabelos de uma índia
Vênus fatale de Dom Eliseu
Sem parada no Pará...
Fervendo dentro de mim
Numa solidão de hotel

sábado, 18 de maio de 2013

O FATOR DEUS – por José Saramago













Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. 
Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um  negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo.
Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.
As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.
E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "fator Deus", esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "fator Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "fator Deus" em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "fator Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.
Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "fator Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se.

Fonte: Folha de São Paulo, em 19/09/2001:

domingo, 28 de abril de 2013

TIPOLOGIA DO CARÁTER NA GENEALOGIA DA MORAL - por Sérgio Ricardo Dedão


I.     INTRODUÇÃO

... A verdade da primeira dissertação e a psicologia do cristianismo: o nascimento do cristianismo, do espírito do ressentimento, não como se crê, do espírito – um antimovimento em sua essência a grande revolta contra a dominação dos valores nobres.  A segunda dissertação oferece a psicologia da consciência: a mesma não é, como se crê, “a voz de Deus no homem” – é o instinto de crueldade que se volta para trás, quando já não pode se descarregar para fora.  A crueldade pela primeira vez revelada como um dos mais antigos e indeléveis substratos da cultura.  A terceira dissertação dá resposta à questão de onde procede o tremendo poder do ideal ascético, o ideal sacerdotal, embora o mesmo seja o ideal Naciso por excelência, uma vontade de fim, um ideal de decadência.  Resposta: não porque Deus atue por trás dos sacerdotes, mas sim faute de mieux (por falta de coisa melhor) – porque foi até agora o único ideal, porque não tinha concorrentes.  ‘Pois o homem preferirá ainda querer o nada a nada querer...’ Três decisivos trabalhos de um psicólogo, preliminares a uma trensvaloração de todos os valores. – Este livro contém a primeira psicologia do sacerdote. (NIETZSCHE, Ecce Homo: Genealogia da Moral: um escrito polêmico, p. 97-98).

          Pretendo nesta pequena exposição tratar de uma obra crítica, histórica, polêmica e imprescindível para compreender o espírito do século XIX e XX.  A obra em questão é intitulada Genealogia da Moral: uma polêmica (1887), do filósofo alemão Frederich Wilhelm Nietzsche.  A obra acima citada versa sobre: a psicologia da moral cristã; a origem histórica da moral; e sobre o valor da moral cristã.  Estando dividida em três dissertações: “Bom e mau”, “bom e ruim”; “culpa”, “má consciência” e coisas afins.  O que significam ideais ascéticos?  A “Primeira dissertação”, trata da origem histórica dos conceitos de “Bom e mau”, “bom e ruim” e dos preconceitos morais tomados como verdades eternas e a-histórica.  Como também, dá psicologia da moral do ressentimento cristão.  A “Segunda dissertação, trata da psicologia do ressentimento, enfocando o aspecto da “crueldade” em várias épocas e povos, mas sempre voltada aos termos “culpa” e “má consciência”. A “Terceira dissertação”, trata dos ideais endeusados pelo homem como positivo, os ideais sacerdotais, isto é, os ideais ascéticos.  Como também, do surgimento do ateísmo como uma meta entre outras metas a serem construídas na história em oposição e superação do niilismo, ou seja, da moral cristã.[1]

A genealogia da moral define esse tipo de niilismo a partir de suas três figuras principais: o ressentimento, a má consciência, o ideal ascético” (MACHADO, 1999, p.59).

Para a análise e exposição da tipologia do caráter, farei uso da primeira dissertação, “Bom e mau”, “bom e ruim”, para mostrar os tipos – ou modelos – de homens existentes na história e suas respectivas morais, tendo como fim uma crítica ao valor da moral cristã.  Diferenciando a moral do “animal de rebanho” da moral das “aves de rapina”, visando ressaltar as diferenças fisiológicas e valorativas.  Sempre relacionando estas com suas origens históricas e observando o valor desses posicionamentos morais para com a vida.   Para tal objetivo seguirei a perspectiva metodológica de Nietzsche.

II.      MÉTODO

Meu desejo em todo caso, era dar a um olhar tão agudo e imparcial uma direção melhor, a direção da efetiva histórica da moral, prevenindo a tempo contra essas hipóteses inglesas que se perdem no azul.  Pois é obvio que uma outra cor deve ser mais importante para um genealogista da moral: o cinza, isto é, a coisa documentada, o efetivamente constatáveis, o realmente havido, numa palavra, a longa, quase indecifrável escrita hieroglífica do passado moral humano (NIETZSCHE.  Genealogia da Moral, p.13; Aforisma 07 do Prólogo).

          O método genealógico de Nietzsche consiste em interpretar os fatos a partir de “diversas óticas”, ou melhor, sobre diferentes “ciências”.  Para tal interpretação faz uso destas diversas ciências – História, Etimologia, Filosofia, Ciências da Natureza, Fisiologia, Psicologia – disponíveis no séc. XIX – para mostrar as contradições dos preconceitos morais existentes na visão de mundo sacerdotal e para “humilhar” a valoração – WERTSCHÄTZUNG – dos “ideais erigidos” pelo cristianismo, que moraliza a vida e retira seu valor primordial.  “Este orgulho deve ser humilhado, e esta valorização desvalorizada: isso foi feito?” (NIETZSCHE, Genealogia da Moral, Aforisma 02, p.19).  O filosofo alemão, toma partido da vida – vontade de poder (Wille Zur  Macht) – e aceita a realidade efetiva como dada, o mundano é o que existe, em outras palavras, o mundo histórico-fenomênico.

A análise histórico-filosófica da moral também remete à concepção da vida como força, como potência ou como vontade de potência que lhe serve de  fundamento.  E o  que se revela, então, é a grande antinomia  entre a moral e a vida: a moral, como manifestação  da fraqueza e  insurreição  contra a vontade afirmativa   de potência, é uma negação da vida, um combate contra seus valores mais fundamentais” (MACHADO,  1999, p. 11-12).

          O perspectivismo (Perspektivische) histórico serve como método e fundamento para questionar qual a origem histórica dos conceitos de “Bom e mau” (Gut und Böse), “bom e ruim” (Gut und Schlecht), entendendo origem histórica, como surgimento, como aparecimento destes termos.  A história efetiva seria o que aconteceu na realidade, e não como se apresentam nas construções idealizadas dos sacerdotes e dos filósofos.  Lembrando que o autor faz uma ponte histórico-filológica-filosófica com a atualidade, compreendendo atualidade como mentalidade do século XIX e dos dois séculos seguintes para compreensão e efetivação da filosofia nietzscheana e finalmente a concretização da derrocada do cristianismo.  Para seu intento, o discípulo de Dionísio, distinguirá épocas, povos, hierarquia dos indivíduos, raças, regiões e seus climas, com o objetivo de mostrar a “fisiologia” – percebendo o corpo como indistinto da alma, como um único corpo, ou seja, a psicologia é intrínseca a fisiologia, sendo distinguidas apenas por analogia – das duas morais existentes no ocidente.  Assim, compreende-se porque a genealogia é cinza, documental, literária e histórica.  “A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente documentária. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes reescritos” (FOUCAULT, M.  Microfísica do Poder.  In: II – Nietzsche, A Genealogia e a História, p. 15).  Portanto ser cinza é tomar o que realmente existiu como base para uma interpretação profundamente baseada na história efetiva.  E julgar a partir de fundamentos documentais os tipos e morais existentes na história do pensamento.

III.             TIPOLOGIA DO CARÁTER

– A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por uma vingança imaginária obtêm reparação.  Enquanto toda moral ‘nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um “não-eu” – e este Não é seu ato criador.  Esta inversão do olhar que estabelece valores – este necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si – é algo próprio do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto – sua ação é no fundo reação.  O contrário sucede no modo de valoração nobre: ele age e cresce espontaneamente, busca seu oposto apenas para dizer Sim a si mesmo com ainda maior júbilo e gratidão – seu conceito negativo, o “baixo”, “comum”, “ruim”, é apenas uma imagem de contraste, pálida e posterior, em relação ao conceito básico, positivo, inteiramente perpassado de vida e paixão, nós, os bons, os belos, os felizes! (NIETZSCHE, Genealogia da Moral, Aforisma 10, p.29).

Existiram – e existem – dois tipos de homem na história efetiva, que tinham olhares diferentes sobre a vida.  Os representantes de cada moral valorava a realidade de modos antagônicos: o cristão vê a vida como um fardo e o nobre vê a vida como alegria.  Esses dois modelos dialéticos estão na base da formação da cultura ocidental.  De um lado a moral do homem nobre, forte, viril, guerreiro, senhor de si, o mais belo dos animais: “a ave de rapina”.  Do outro, o mais belo representante da moral da “decadance”, o cristão.  O modelo de tudo que é fraco, covarde, doente, aleijão, que atende pelo nome de “ovelha”.

Tese central de Nietzsche: a existência, não de uma única, mais de uma dupla origem dos valores morais e de uma oposição histórica irredutível entre dois tipos fundamentais de moral: uma “moral dos mestres” e uma “moral dos escravos”, ou, para usar as expressões de Crepúsculo dos ídolos, uma “moral sadia”, natural, regida pelos instintos da vida, e uma “moral contranatural” voltada contra os instintos da vida. Dois tipos de moral, afirma Nietzsche, mas que na realidade são totalmente heterogêneas, nada têm em comum, implicam uma diferença de níveis, uma hierarquia, mesmo que, como tipos, existam em uma mesma sociedade e até em um mesmo indivíduo.  Em outros termos, a “moral dos mestres”, a “moral sadia”, mais propriamente do que uma moral, é uma ética. (MACHADO, 1999, p.61).

A moral escrava que é representada pelos pastores nômades, os judeus e seus filhos os cristãos que afirmam o ressentimento em suas diversas manifestações.  Tal moral é concebida como doença mental, amolecimento do cérebro e é acompanhada por um desarranjo espiritual, este quadro sintomático leva-nos a perceber a anemia profunda e a fraqueza estomacal causada pelo cristianismo, além dos retrocessos históricos, morais e fisiológicos ocasionado pelo mesmo.  O cristianismo é considerado pelo autor como um atavismo (NACHSCHLAG).  As “ovelhinhas” ressentidas não apontam um sentido real na história para o animal-homem, pois ao afirmar o que está “por traz do mundo”, retiram o valor da vida para colocar em outro mundo, um mundo ficcional.  Sublimando seus anseios em Deus – ou nas palavras de Nietzsche, no “nada” – e em suas recompensas no céu.  Do fundo da mente (judaica) cristã brota a vingança contra os senhores na forma de “purgatório” e de “juízo final”, deliram e entram em êxtase só de pensar em tal idéia.  Tudo isso para justificar sua impotência diante da vida, ou seja, sua fraqueza constitutiva.  Vejamos o ressentimento sob a perspectiva de Roberto Machado:

O ressentimento é o predomínio das forças reativas sobre as forças ativas. O ressentido é alguém que nem age nem reage realmente; produz apenas uma vingança imaginária, um ódio insaciável... Criando um inimigo que considera malvado e imaginando uma vingança contra seus valores, o que faz o ressentido é dar sentido a sua falta de força: o outro é sempre culpado do que ele não pode, do que ele não é. Concebendo o inimigo forte como malvado, o ressentido – que é fraco, que é o seu oposto, que é a negação dos valores que o outro institui pode então se considerar, ou melhor, se imaginar bom.  Atitude diametralmente oposta à dos aristocratas que se autoposicionam bons, consideram mau o que é comum, o que não lhes é igual, e não desprezam, ao contrário, veneram os inimigos, isto é, também os consideram bons. (MACHADO, 1999, p. 64-65).
Nietzsche fará o desmascaramento do cristianismo ao mostrar que o cristão por não ser forte e atuante na história, por não conseguir vencer pela força e pela astúcia os senhores, ressentem-se.  Voltam-se contra tudo que é forte, belo, nobre, guerreiro e senhor, através da espiritualização do seu ódio e da vingança criadora de valores.  Esta espiritualização garante a vitória temporária do cristianismo nestes últimos dois mil anos.
Percebemos que Nietzsche toca na ferida do cristão ao fazer sua psicologia, isto é, entender como funciona a mente do animal plebeu e quais os ressentimentos e os preconceitos morais que os move.
A outra moral trata do modo de valorar aristocrático, o tipo nobre.  Tal tipo de valoração atribui um sentido positivo e afirmativo da vida, sendo a existência – empírica – quem possui o valor supremo.  Nietzsche, afirma que é intrínseca à natureza uma hierarquia entre os homens e, consequentemente, que existem desigualdades entre os homens da moral aristocrática e da moral sacerdotal.  Esse homem nobre cunhou os termos “bom e ruim” e deu nome as coisas, lembrando que não pela utilidade, ou pela compaixão, mas sim, por vontade e necessidade.  Vejamos:

Foram os “bons” mesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento que sentiram e estabeleceram a si e as seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era baixo, de pensamento baixo, vulgar e plebeu.  Desse phatos da distância é que eles tomaram para si o direito de criar valores, cunhar nomes para os valores: que lhes importava a utilidade.  Esse ponto de vista da utilidade é o mais estranho e inadequado, em vista de tal ardente manancial de juízos de valor supremos, estabelecedores e definidores de hierarquias: aí o sentimento alcançou bem o oposto daquele baixo grau de calor que toda prudência calculadora, todo cálculo de utilidade pressupõe – e não por uma vez, não por uma hora de exceção, mas permanentemente.  O phatos da natureza e da distância, como já disse, duradouro, dominante sentimento global de uma elevada estirpe senhorial, em sua relação com uma estirpe baixa, com o “sob”- eis a origem da oposição “bom” e “ruim”.  (O direito senhorial de dar nomes vai tão longe, que nos permitiríamos conceber a própria origem da linguagem como expressão de poder dos senhores: eles dizem “isto é isto”, marcam cada coisa e acontecimento com um som, como que apropriando-se assim das coisas).  Devido a essa providência, já em princípio a palavra “bom” não é ligada necessariamente a ações “não-egoístas” como quer a superstição daqueles genealogistas da moral (NIETZSCHE, Genealogia da Moral, Aforisma 02, p.19).

Assim o animal de rapina, fez uso do “pathos da distância”, essa noção de ser diferente, de ser referência, isto é, modelo.  Ao afirmar essa mesma diferença – a partir de si mesmo – e tomar para si o direito de dar nomes às coisas e aos seres.  “Bom” para essa moral é o que aumenta a potência, que eleva a força e a estirpe.  Sendo a guerra um lugar onde esse animal superior manifesta sua força e sua crueldade.  A besta nobre, afirma o egoísmo como valor a ser tomado em uma escala de valoração elevada.  Vemos, claramente, as diferenças entre os hábitos dos cristãos, que afirmam ser a “guerra um mau negócio” e que os “hábitos hostis a ação” devem ser ressaltados e tomados na mais alta estima.
A crítica aos “genealogistas da moral” será incisiva, por eles serem maus interpretes da história da moral.  Irá direcionar-se principalmente contra os psicólogos ingleses, mas especificamente, contra o “Dr. Paul Rée” – seu desafeto –, que mergulhado na teoria da “besta darwiniana”- lembremos que o século XIX, fora muito influenciado pelas teorias de Darwin –, que acreditava que existisse um aperfeiçoamento moral e científico do homem, como também, em uma crença – superstição – cega na genealogia da moral a-hsitórica.  Esses psicólogos ingleses levaram tão a sério a evolução, que acreditam em ideais femininos-democráticos como valores universais, tais ideais, são: o não egoísmo; a compaixão; a utilidade; o esquecimento; a liberdade e, por fim, “o erro”.

Todo respeito, portanto, aos bons espíritos que acaso habitem esses historiadores da moral! Mas infelizmente é certo que lhes falta o espírito histórico, que foram abandonados precisamente pelos bons espíritos da história! Todos eles pensam, como é velho costume entre filósofos de maneira essencialmente a-histórica; quanto a isso não há dúvida.  O caráter tosco da sua genealogia da moral se evidencia já no início, quando se trata de investigar a origem do conceito e do juízo de “bom”.  “Originalmente” – assim eles decretam – “as ações não egoístas foram louvadas e consideradas boas por aqueles aos quais eram feitas, aqueles aos quais eram úteis; mais tarde foi esquecida essa origem do louvor, e as ações não egoístas, pelo simples fato de terem sido costumeiramente tidas como boas – como se em si fossem algo bom”.  Logo se percebe: esta primeira dedução já contém todos os traços típicos da idiossincrasia dos psicólogos ingleses – temos aí “a utilidade”, “o esquecimento”, “o hábito” e por fim “o erro”, tudo servindo de base a uma valoração da qual o homem superior até agora teve orgulho, como se fosse um privilégio do próprio homem. (NIETZSCHE.  Genealogia da Moral, Aforisma 02, p. 18).

Não é como pensam os psicólogos ingleses que acreditam terem surgido os juízos de bom com o cristianismo e que as ações não egoístas em sua origem eram tidas como boas. E somente através do “esquecimento” os homens adormeceram e perderam-se nas lembranças o valor “positivo” do não-egoísmo. Vejamos a perspectiva de Michel Foucoult:

Paul Rée se engana, como os ingleses, ao descrever gêneses lineares, ao ordenar, por exemplo, toda a história da moral através da preocupação com o útil: como se as palavras tivessem guardado seu sentido, os desejos sua direção, as idéias sua lógica; como se esse mundo de coisas ditas e queridas não tivesse conhecido invasões, lutas, rapinas, disfarces, astúcias. A genealogia exige, portanto, a minúcia do saber, um grande número de materiais acumulados, exige paciência.  Ela deve construir seus “monumentos ciclópicos” não a golpes de “grandes erros benfazejos”, mas de “pequenas verdades” inaparentes estabelecidas por método severo. Em suma, uma certa obstinação na erudição.  A genealogia não se opõe à história como a visão altiva e profunda do filósofo ao olhar de toupeira do cientista; ela se opõe, ao contrário, ao desdobramento meta-histórico das significações ideais e das indefinidas Teleologias.  Ela se opõe à pesquisa da origem. (FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. In: NIETZSCHE, A Genealogia e a História, p.15).

Percebe-se que os psicólogos ingleses, na busca da origem da moral perdem-se em um emaranhado de conceitos – ou seria preconceitos – desvinculados da história realmente havida, pois a história é movida por sangue, egoísmo e crueldade.  Esses ingleses com suas idiossincrasias, ou seriam valores culturais desconheceram o cinza da genealogia, consequentemente, perdendo-se no azul do céu.

IV.   BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, V. D. Nietzsche e a dissolução da moral.  São Paulo: UNIJUÍ, 2000.

BRUM, J.T. O Pessimismo e suas Vontades: Schopenhauer e Nietzsche.  Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder.  Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1995.

GILES, T. R. História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU, 1989.

HEERS, J. História Medieval. Trad. Tereza Aline Pereira de Queiroz. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1974.

MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Verdade. Rio de Janeiro: Graal, 1999.

NIETZSCHE, F.W. Genealogia da Moral: uma polêmica. Trad. Paulo César de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
_______________.  Além do Bem e do Mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Trad. Paulo César de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
_______________. O Anticristo: maldição do cristianismo.  Rio de Janeiro: Clássicos Econômicos Newton, 1996.
_______________. Crepúsculo dos Ídolos ou a Filosofia a Golpes de Martelo. Trad. Edson Bini e Márcio Pugliesi.  São Paulo: Hemus, 1984.

_______________.  Ecce Homo: como alguém se torna o que é. Trad. Paulo César de Souza.  São Paulo: Companhia das Letras, 1995.


[1] Nas palavras de Nietzsche, em sua autobiografia Ecce homo, ficam claras em seu comentário sobre a genealogia da moral, seu ponto de vista sobre sua obra. Vejamos: “... a verdade ...  do sacerdote”.

LOUCO DEMAIS PARA VIVER – por Clark Bruno

O Louco, by Pablo Picasso
Você acha que sou louco demais para viver
Pode pagar para ver
Sou osso duro de roer
Não desisto fácil
Não me contento com o fracasso
Faço
não ameaço
Você acha que sou louco demais para viver
Pensou que eu ia enlouquecer
De vez
Dê a cara para bater
Não vai demorar muito
pode crer
para se render
Você acha que sou louco demais para viver
Não custo a me levantar
Não sou de debandar
Luto até o gongo soar
É melhor se preparar
para apanhar



Você acha que sou louco demais para viver
Pode pegar pesado
Vou te mostra que não sou palhaço
Não faço rir à toa
Vou zombar de sua pessoa
Você acha que sou louco demais para viver
Quer me ver pelas costas
Sabe que não gosto
De lorotas
Mas antes do entardecer
Eu que vou te enlouquecer
Então vai entristecer
quando ver
que decepcionei você.

TOTEM - por Jeová Santana
















O pensamento na cabeça deste boi
Agora em repouso na parede
O tempo é um corte seco
E um mugido toma  lugar da fala

Onde seu berro trilhoso gravou-se:
Cercadinho de pobre de cristo
Ou figura de lustrosa manada?
Em que (re)pasto de lembranças
Guardou-se o estirão dos aboios?

O silêncio pousa no prato
Enquanto a cabeça contempla
O abate sereno das horas