Pintura do artista sergipano Augusto César
"Bebe o dono, bebe a dama, bebe o servo, bebe a ama, o burguês com o vago o camponês com o mago. o marginal, o indigente, o moço e o veterano, bebe o abade com o decano, bebe o irmão, bebe a irmã, bebe o velho, bebe a anciã, bebe o nobre, bebe o vil bebem cem e bebem mil. Mas ao beber na alegria, falsos irmãos de nós judiam sempre nos vilipendiam. Quem nos inveja, seja maldito, no livro dos justo não fique inscrito" (Os Goliardos)
Panóptico
quarta-feira, 10 de abril de 2013
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
KAFKA E O PAI – por Andrei Albuquerque
Kafka, por Robert Crumb |
A presença do pai do escritor era esmagadora em sua vida; Kafka, em sua carta, destila traumas e mágoas até alcançar o ponto de um queixume burlesco – até risível, mas que sob a pena brilhante do mestre tcheco ganha valor literário além das lamentações comuns. Porém, há também amor e admiração pelo pai como se ele fosse uma figura onipresente, mas inalcançável. Após a leitura da carta, resta a impressão indelével a respeito da marca da relação entre filho e pai na obra de Kafka; claro que a questão do poder opressivo e sufocante presente em obras como “O processo” e “O castelo” está muito além de uma superficial e reducionista leitura das relações do escritor com seu pai – a tendência a empreender uma leitura meramente edípica deve ser tomada com reservas. O escritor também era um judeu que conhecia de perto a realidade do gueto e da exclusão social.
Há em Kafka o pesadelo do poder burocrático que oprime. Todavia, obras como o inacabado “O castelo” e “O processo” podem ser lidas sob uma perspectiva existencial; contudo, ambas não são excludentes, sendo a força metafórica da obra do escritor tcheco inesgotável. Modesto Carone, ensaísta e tradutor de Kafka, lembra que “O castelo”, primeiramente, recebeu a intepretação teológica de Max Brod (amigo e editor de Kafka) que enxergava nesse romance uma busca mística por Deus. Outro exemplo, que pode ser fértil em interpretações, é o conto “Comunicação a uma academia” – que foi adaptado para o teatro – relata a história de um chimpanzé que foi “humanizado” e, por isso, perde algo de sua inocência selvagem para adotar as idiossincrasias humanas e também suas torpezas.
No entanto, novelas como “O veredicto” (1912) e “A metamorfose” (1912) mostram mais claramente a questão de uma sensação de inadequação familiar. A descrição de Kafka do mal-estar de seus personagens é forte e ácida. O famigerado personagem principal de “A metamorfose”, Gregor Samsa, o homem que acorda transformado em inseto passa toda a narrativa preso na residência familiar, enfrentando a estranheza de sua transformação e o asco de sua família ao vê-lo em sua nova condição. A comunicação entre o Gregor inseto e sua família se torna ainda mais difícil; ao poucos o inseto isolado definha e morre. A irmã tenta compreender Gregor, mas o pai apenas adota uma posição de repulsa e incompreensão. Outrossim, vale lembrar que antes de se tornar inseto, Samsa era arrimo de família, pois seu pai estava aposentado. A nova condição de inseto do filho deixa o pai furibundo por que teria que voltar a trabalhar e sustentar a família.
No entanto, novelas como “O veredicto” (1912) e “A metamorfose” (1912) mostram mais claramente a questão de uma sensação de inadequação familiar. A descrição de Kafka do mal-estar de seus personagens é forte e ácida. O famigerado personagem principal de “A metamorfose”, Gregor Samsa, o homem que acorda transformado em inseto passa toda a narrativa preso na residência familiar, enfrentando a estranheza de sua transformação e o asco de sua família ao vê-lo em sua nova condição. A comunicação entre o Gregor inseto e sua família se torna ainda mais difícil; ao poucos o inseto isolado definha e morre. A irmã tenta compreender Gregor, mas o pai apenas adota uma posição de repulsa e incompreensão. Outrossim, vale lembrar que antes de se tornar inseto, Samsa era arrimo de família, pois seu pai estava aposentado. A nova condição de inseto do filho deixa o pai furibundo por que teria que voltar a trabalhar e sustentar a família.
Além das considerações existenciais que possam ser aplicadas ao homem-inseto, há a situação absurda e terrível de seu personagem em relação à sua família; talvez aí encontremos ecos da relação entre Kafka e seu pai. Não que se deva tentar reduzir a preciosidade áspera do romance a uma fácil interpretação edípica; no entanto, não se deve desconsiderá-la, pois é notória a influência da relação de Kafka com seu pai em sua obra. E “Carta ao pai” releva, pelo seu caráter autobiográfico, o ódio e aversão que não deixam de estar fusionados com o amor e a admiração de um filho pelo seu autoritário pai – o pai terrível de Kafka também é sumamente admirado. Talvez o exemplo mais vívido seria a novela “O veredito” (1912) na qual há o claro conflito entre o personagem Georg Bendemann e seu viúvo pai .
Há, nessa “carta”, a purulência do escritor na consideração de si. Porém, todo o aviltamento de si parece servir para enaltecer Hermann Kafka, tornando esse pai um ser tentacular que o escritor, fantasiosamente, imaginava deitado sobre o mapa-múndi. O escritor David Zane Mairowitz que assina o texto – na biografia ilustrada (em quadrinhos) Kafka de Robert Crumb – acredita que o pavor de Kafka frente às relações de poder teria sua origem no convívio com seu temido pai. Na carta, o escritor dispara ao falar de si e do pai: “Eu magro, fraco, franzino, tu forte, grande, possante”. Quando adulto, Franz Kafka ainda sofria com as admoestações de seu pai que tinha fama de ser um patrão hostil que atormentava a vida de seus funcionários. Curiosamente, o autor da “carta” não recordava de ter sido insultado diretamente pelo pai, mas afirmava que havia outros meios de o pai ter agredido a ele e suas irmãs – o comportamento irascível paterno, talvez, seria o meio que mais afligisse a Franz.
A autocomiseração do autor, na carta, tangencia o insuportavelmente risível, mas também o torna mais agressivo por que este estado de autopiedade seria culpa do pai. Não obstante, esse pai temível e autoritário está deformado pelas das construções psíquicas do autor que, esplendidamente, se manifestam ao longo de sua fantástica obra.
Em suma, qualquer interpretação – oriunda de uma vasta fortuna crítica – permanecerá aquém da obra de Kafka.
Fonte: http://www.noticiasaju.com.br/artigos.asp?id_artigo=394
Há, nessa “carta”, a purulência do escritor na consideração de si. Porém, todo o aviltamento de si parece servir para enaltecer Hermann Kafka, tornando esse pai um ser tentacular que o escritor, fantasiosamente, imaginava deitado sobre o mapa-múndi. O escritor David Zane Mairowitz que assina o texto – na biografia ilustrada (em quadrinhos) Kafka de Robert Crumb – acredita que o pavor de Kafka frente às relações de poder teria sua origem no convívio com seu temido pai. Na carta, o escritor dispara ao falar de si e do pai: “Eu magro, fraco, franzino, tu forte, grande, possante”. Quando adulto, Franz Kafka ainda sofria com as admoestações de seu pai que tinha fama de ser um patrão hostil que atormentava a vida de seus funcionários. Curiosamente, o autor da “carta” não recordava de ter sido insultado diretamente pelo pai, mas afirmava que havia outros meios de o pai ter agredido a ele e suas irmãs – o comportamento irascível paterno, talvez, seria o meio que mais afligisse a Franz.
A autocomiseração do autor, na carta, tangencia o insuportavelmente risível, mas também o torna mais agressivo por que este estado de autopiedade seria culpa do pai. Não obstante, esse pai temível e autoritário está deformado pelas das construções psíquicas do autor que, esplendidamente, se manifestam ao longo de sua fantástica obra.
Em suma, qualquer interpretação – oriunda de uma vasta fortuna crítica – permanecerá aquém da obra de Kafka.
Fonte: http://www.noticiasaju.com.br/artigos.asp?id_artigo=394
A BUSCA DO POETA - por Sérgio Dedão.
“Estou preso ao papel
com o prego das
palavras”
MAIAKÓVSKI
A insônia é minha companheira
Na solidão silenciosa da noite
Caço o entendimento do
incompreendido
Desejo capturar rolinhas-poemas
em minha arapuca .
O que busca o poeta?
Decifrar o enigma da
vida e suas contradições contraditórias
O que buscava
Bukowski?
poesia e vida
em
forma
de
simplicidade e síntese
linguística
de
dizer
o
máximo
com
o
mínimo
O que buscava Rimbaud?
Uma linguagem
camponesa
universal
brilhante
como
o
Sol e Carne
dos
conflitos
existenciais
da
natureza
humana
O que buscava
Baudelaire?
o
belo
no
feio
e
o
feio
no
belo
a
Bela Carniça
O que buscava Maiakóvski?
A
multiplicidade
linguística – libertária
– revolucionária
de
criar
inúmeras
formas de expressar
a
beleza da vida
e
o
amor
pelas
palavras
em
movimento
criador
Black and White
O que busca Pirro
Pardal?
O
escarnio
neologista
das
formas
de
dominação
morais
sociais
e
convencionais
O que busca o Clark a
margem?
A
transformação
da
História
da
poesia-filosófica
através
da
busca
de
todos
em
si
mesmo
Todos esses gênios
buscaram
extrair
o
máximo
da
Vida
para
cantar
a
beleza
da
Vida
e
de
está
vivo
Criando
uma
simbiose
indissociável
entre
vida – amor – vida
vida – dor – vida
vida – ardor – vida
vida – clamor – vida
vida – sobrepor –
vida
vida – copular – vida
vida – musicar – vida
vida – cantar – vida
vida – poetar – vida
vida – criar – vida
sempre
vida – vida
e
mais
Vida
...
SERGIO DEDÃO
27/02/2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
FÁBULA DOS BICHOS - por Pirro
o Bode e o Caititu,
animados entre uma pulha e outra.
animados entre uma pulha e outra.
O Caititu, para tirar uma de esperto, disse:
“Eu nasci no Povoado Pau Grande”
O Bode, percebendo o vacilo da frase, emendou:
“Quer dizer que você nasceu no Pau Grande”.
O Caititu engoliu seco com um nó na garganta
O Caititu engoliu seco com um nó na garganta
balançando a cabeça de um lado pro outro.
Depois de muito tempo,
na passagem de uma encruzilhada
na passagem de uma encruzilhada
eis que os destinos se mordem.
O Bode, vendo o Caititu descendo a ladeira, caçoou:
“Veja só quem vem se balançado de gordo: o baixinho.
Parece um tôco de
amarrar rato”.
O Caititu, como quem mordido por um escorpião,
ficou na ponta dos pés e retrucou à altura:
“sou gordo e baixinho, mas meu pau é grande”.
O Bode riu sem graça coçando sua barbicha.
Mas, de pronto, tirou da mochila uma frase reta
e com um riso no canto da boca,
olhou para baixo onde estava o Caititu:
“Sóoooo...! mas, pelo menos, nunca dei
e nem como meu próprio cu”.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
DISCÍPULO DE DIONÍSIO
Sou um animal
dotado de
faro racional
porém, em meu sangue
corre todos os contrários
corre todos os contrários
diabólicos da
natureza
como mar na loucura
da ressaca
por isso, não vou para
a igreja
nem academia de
ginástica.
Vocês me entendem,
espíritos puritanos?
espíritos puritanos?
Sou paixão, devir e iconoclasta
como um verdadeiro
discípulo de
Dionísio.
sábado, 6 de outubro de 2012
UMA PUTA NA NOITE (por Pirro)
"Nu vermelho" (1917), por Amedeo Modigliani |
Faltou luz no Novo Paraíso
as
velas foram acesas
Estávamos sentados
feito fantasmas esquizofrênicos
com a cabeçativa
cervejando à luz de muitas idéias
O silêncio surgiu
de lugarnenhum
Os vagalumes de nossos olhos
perdidos nos contornos da fumaça
Atômicos lampejos
escupiam
a geografia
de
seu corpo trêmulo
Lembrei dos velhos dias
quando um carnaval de gametas
dançavam em nossos poros
que sempre nos
sustenTARA
Num gesto último
olhei seus olhos de puta quente
e saí abraçando a noite
deixando para
trás
uma esfinge
“devoradora de hombres”
"O temporal" (vídeo) - 16 de Abril (Live in Bugio)
16
DE ABRIL:
Vocal: Altemir
Guitarra:
Saulo
Baixo:
Júnior Lima
Bateria:
Rominho
AGRADECIMENTOS PELO APOIO:
Dudu,
Igor Meneses, Bucha, Sergio, Vertinho & Nitinho.
EDIÇÃO DE IMAGENS: Pirro
Show realizado em homenagem ao Bairro Bugio - Aracaju-SE.
Data: 23/09/2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
"Tudo está errado" - 16 de Abril (Live in Bugio)
16
DE ABRIL:
Vocal: Altemir
Guitarra: Saulo
Baixo: Júnior Lima
Bateria: Rominho
AGRADECIMENTOS PELO APOIO:
Dudu, Igor Meneses, Bucha,
Sergio, Vertinho & Nitinho.
EDIÇÃO DE IMAGENS: Pirro
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
POEMA-SEM-FUTURO
"Não há nada de novo debaixo do sol"
(Eclesiastes)
Se for natural, meu chapa, fume seu cigarro
no escuro de um lugar propício
ou nos confins da Atalaia Nova
onde os últimos solitários abraçam a noite
e assistem a face medonha de Moloch
comandando a cidade dos papagaios
Moloch, Moloch, Moloch
num ataque de ambição e poder
surge do martelo da assembléia legislativa
e do sino patológico da catedral
e do sino patológico da catedral
refletido na face dos políticos e religiosos
turvando as águas do Rio Sergipe
Cadê o déga, cadê
o déga!
eis que os camaradas precisam relaxar
ante a pressão da civilização selvagem
Cheire a lei de sua vontade alternativa
e segure a sua onda com calma
porque o bright
dos postes ilumina
vários rostos sem nomes
dispersos desde os becos de lama
até os arranha-céus do Jardins
Moloch, Moloch, Moloch
brota num ataque epilético de proíbição
que reluz seus sinais de pavor
na gaiola de concreto e vidro
entre semáforos, buzinas e trocas de afetos
Cadê o déga, cadê
o déga!
eis que os rapazes precisam dirigir a cabeça
ante o mal-estar da barbárie civilizatória...
domingo, 5 de agosto de 2012
"NUVENS" - produzido por Pirro
VOZ & VIOLÃO: Altemir (Banda 16 de Abril)
MÚSICA & LETRA: Marcão
CONCEBIDO & PRODUZIDO POR: Pirro Korisco
CENAS EXTRAS:
"L'Amour
l'Après-Midi" - de Eric Rohmer, com Danièle Ciarlet, a bela Zouzu.
"La femme d'à côté" - de François Truffaut, com Gérard Depardieu
& Fanny Ardant.
"La frontière de l'aube" - de Philippe Garrel, com Louis Garrel & Laura Smet.
"Vals Im Bashir" - de Ari Folman.
PERSONAS IN VIDEO:
Altemir
Marcão
Shayanne Sá
Clark Bruno
Pirro
ESTÚDIO: Bugio Home Vídeo
FOTOGRAFIA: Pirro Korisco e Rilke Pirralho
WEBSITE:
Blog Banda 16 de Abril
Blog Pirro's Bar
CONTATO/EMAIL:
altemir58@gmail.com
altemirjose.santos@facebook.com
pardalista@hotmail.com
http://facebook.com/pirroa1
quinta-feira, 7 de junho de 2012
O SOL SE ESGUEIRA POR SOBRE OS PRÉDIOS DE ARACAJU (por Pirro)
"Aracaju ao pôr do sol" (por Danilo Nunes) |
O sol se esgueira por sobre os prédios de Aracaju,
os pardais enchem o céu de barulho
as ruas e avenidas estão tomadas
pelas buzinas e fumaças
Garotos e garotas chegando às
escolas,
sob os cuidados de pais apressados
Operários com celulares e relógio Oriente
enchem os coletivos e táxi de lotação
condicionados como máquinas
para cair nas mãos sensíveis
dos capatazes da infernaria
depois de um domingo de bebedeira
e putaria nos bordéis, templos e
igrejas.
A visão do paraíso re-brilha
A visão do paraíso re-brilha
nas vitrines dos shoping centers
o pagamento na data inadimplente,
a venda da alma com a corda no pescoço
por um alto preço e um custo
incerto,
Eles ainda acreditam em monstros,
no retorno do messias e na decência
eles dizem que a ação
humana é tudo,
mas colocam seus passos e pegadas
sob vigilância da velha malandragem
dos doutores da retórica.
Lembro de Oswald nas ruas de Sampa
sob vigilância da velha malandragem
dos doutores da retórica.
Lembro de Oswald nas ruas de Sampa
carroças nos trilhos dos bondes
eruditices de fachada anti-Patativa
nas entresalas do discurso vaidoso
Eles parecem que não estão
antenados
com o real da vida excessivamente humana
Vejo todos se arrastando como lagartos
nos asfaltos manchados de freios.
No fundo, todos nós somos
incrédulos...
mas o rebanho faz o pacto com o
doutor
Os poetas estão cheios de palavras,
poucos tocam a rés do chão,
Os artistas falam de coitas d’amor
e de remelexos pagodeados
que fazem tremer o
esqueleto
dos bonecos de deus.
O Brasil vai bem e Aracaju sorri
dos bonecos de deus.
O Brasil vai bem e Aracaju sorri
como uma bela puta socialite cinquentona
catando fichinha entre as
paredes hedonistas
da Assembléia Legislativa e salões
de festas.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
THE STRIP (por Fernando Sá)
Fremont Street - Las Vegas |
Enquanto
caçava os níqueis de meu coração despedaçado
Arturo
Bandini me fitava
Do outro
lado da mesa.
Las Vegas,
Las Vegas,
City de
Memórias de filmes idos
meu pai
Entre um
continental – sem filtro – e outro.
O cheiro do carpete mofado do Astec Inn
O cheiro do carpete mofado do Astec Inn
cassino
disputado por velhos em suas últimas apostas
- DE VIDA
–
Quase
sempre frustradas,
Como as
putas de plantão.
O ventilador de teto olhava-me impassível e lento
O ventilador de teto olhava-me impassível e lento
Entre
câmeras de vigilância
Lembrando-me
dos quartos do Real Porão
Em Brasa
City.
Mar de luzes de freio
Mar de luzes de freio
Pássaros
brotavam de árvores
A caminho
do hotel.
A lua entrava na sala e eu conversava com os astros
A lua entrava na sala e eu conversava com os astros
Em busca
de decifrar os passos futuros.
Meu filho
me esperava em casa
Prestes a
nascer
E eu aqui
percorrendo as ilusões do deserto
Colorado
River.
Nas encruzilhadas da cidade-cassino,
Nas encruzilhadas da cidade-cassino,
Pensei
domar os instrumentos dos sonhos.
Peter Tosh catarola Depression man no rádio
Enquanto
a máscara, que enfeitava o quarto, fitava-me questionadora:
Aonde
foram parar os sonhos revolucionários de antanho?
Tudo continuava atrasado, inclusive os sonhos naquela noite
Tudo continuava atrasado, inclusive os sonhos naquela noite
Que
também não chegaram.
terça-feira, 1 de maio de 2012
PRESSENTIMENTOS DE ALBATROZ (Pirro)
Vou andando por entre a multidão
Com pressentimentos de albatroz,
Ouço protestos cansados e vãos
Que se arrastam e mordem o pó.
Semblantes famintos e sofridos
Surgem nos bairros sujos do lodo
Percebo o caos e o torpor inscritos
Sobre a pátria merda desse povo.
Ao som do mau-gosto tão profundo
É celebrada a festança trio-lúdica...
Nos palcos precários do submundo
O povo dança conforme a música.
Dos becos lamacentos da noite,
Ouço a fala enlatada dos pregos
Os estalos graves dos açoites
Espetam os olhos destes cegos.
Urbanóides movidos à máquina
Aspiram a líricos projetos
Crocodilos banhados em lágrimas
Pelas ruas rudes de concreto.
E o povo nesse circo de mamatas
Arrasta-se através dos tempos
Só vomitando sapos e pragas
Perdido em seus passos sonolentos.
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