"Bebe o dono, bebe a dama, bebe o servo, bebe a ama, o burguês com o vago o camponês com o mago. o marginal, o indigente, o moço e o veterano, bebe o abade com o decano, bebe o irmão, bebe a irmã, bebe o velho, bebe a anciã, bebe o nobre, bebe o vil bebem cem e bebem mil. Mas ao beber na alegria, falsos irmãos de nós judiam sempre nos vilipendiam. Quem nos inveja, seja maldito, no livro dos justo não fique inscrito" (Os Goliardos)
Panóptico
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
sábado, 18 de outubro de 2014
ABRE AS PERNAS VIDA, ABRE
"Abaporu" (Tarsila do Amaral) |
Abre as pernas vida,
abre
nesta noite americana
que se debruça
como uma gata no cio
nos telhados de
Aracaju.
Minha alma erguida
espera
a mulher que ama
para celebrar a
gravidez
dos perfect days
na voz de Lou Reed.
Abre os olhos vida,
abre
que estou
arquitetando
uma arapuca para
pegar
o Congresso e a
Catedral.
Esses ídolos falidos
mentiram
para os meus
camaradas.
Abre o espírito vida,
abre
que em meus olhos
relampejam o riso
por suas crenças
politicamente
corretas
que enobrecem de verdade
suas virtudes, poses
e mesas de jantar
como o "discreto
charme” de Buñuel.
Abre a boca vida,
abre
eles precisam ouvir
o que temos a dizer
sobre o jogo do bicho
que se oculta
em suas assembléias
e roupas bem
passadas.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
CORPO QUENTE (Pirro)
by Leonid Afremov |
Quando meu quarto se torna
uma prisão
em noites de sábado sem
ninguém
saio andando pelas ruas do
bairro
em busca de um animado xodó
que tenha um corpo quente
que dance comigo na noite
embalado por doses de
aguardente
Fico na praça... na mesa de um
bar
vejo homens barrocos indo
às igrejas
suas mulheres se parecem com santas
seus rostos tristes, frios e
sem cores
expressam o medo por um corpo
quente
que queima como um velho
aguardente.
Bebo uma dose, ouço o
Creedence,
mulheres me olham no olhar
noites intensas cheias de promessas
que seja eterno enquanto
durar!
elas desejam um corpo quente
que as deixe como uma criança
contente
Todas elas pensam em
casamento
fazem planos e amam sem
limites
mas tudo esfria com o tempo...
então elas se lançam ao proibido
sem apegos, indiferentes
na busca de um corpo quente
Oh, elas buscam um corpo
quente
como quem bebe o carpe diemdas pequenas e doces coisas
deste rio que passa,
e me convida para navegar
sábado, 27 de setembro de 2014
POEMA EM LINHA TORTA (Pirro)
qual for
a sua
nova identidade,
por onde quer
annnnnnnnnnde
ou
nnnnnnnnnnnade,
o fundo
do seu rio
permanecerá
o mesmo
Você, homem novo
Você, mulher nova...
[todos Nós
os molochs modernos
civilizados
civilizados
[nós
atados
aos
troncos e trancos
da
vida terra
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
EPIGRAMA (Pirro)
domingo, 14 de setembro de 2014
SURREALISMO POLÍTICO (Pirro)
"Ao vencedor, as
batatas".
(Machado de Assis)
Lá se vão os lobos com palavras de anjos
Ganindo pelas ruas
de concreto e lama
Antropofagia de tupinambás espertos,
Sem sarna e com Sarney
Os lobos negociando, conspirando,
Criando estratégias para abocanhar o poder,
Os lobos encenam-se como oposicionistas
De trincheiras amistosas no teatro Tobias Barreto.
Eles ocultam um segredo nessa tragicomédia mundial:
O segredo da loucura pelo dinheiro,
O doce... o pomposo, o vaidoso poder!...
Eila! A Matrix...
Galaxys
universais, facebookers
Twitters, chips
mentais
What’s
up!... dizem as ovelhas universotárias.
II
De repente, de uma queda surge Marina
Nevando com Aécio, avexando a revolucionária...
Ela retorna como uma múmia meio Mona Lisa
A Maria do povo, do João-ninguém e solícitos Francos,
Que sacrificou a própria família
pela coligação da astúcia,
Maria tão pálida, tão santa, tão honesta
Com brilho de plástica e botox
E jeito de feiticeira católica.
Elas retornam para reuniões vantajosas
Com muitos líderes bem intencionados
Da Matrix
galaxys
universais, facebookers,
Twitters, chips
mentais
WhatsApp!...
dizem as ovelhas da paz e da Justiça.
III
Os lobos vendem boas intenções
A um alto custo e curto prazo
Quando estão rezando na Catedral
E
armando no Congresso.
As conexões, a grana, os chás, os consensos,
Os seletos lobos bebendo Seleta e Old parr
Rindo dos bestilizados
e parasitários
Fetichizados pelas esmolas clientelistas,
sem educação, mas com diploma de doutor...
Os filhos da besta cega,
tecnologizados, fartos ou famintos
Na Matrix
Galaxys
universais, facebookers
Twitters, chips
mentais…
WhatsApp!...
dizem as ovelhas dos templos evangélicos.
IV
Os
lobos empenham as
palavras a ferro frio
Palavras ditas in
nome dei...
Arregimentam o cabo eleitoral,
O cargo de comissão, voto
de cabresto e de miséria...
Os lobos mapeiam o território
Pelas engrenagens dos cartéis de bandidos engomados,
Para meter a mão no controle-remoto da Matrix.
Todos os partidos partem o bolo de ouro,
E a política secreta, fragmentária, suspeita
continua
Partindo, subtraindo, in-gerindo
Pelas graças do
espírito santo e dos três poderes.
Ela continua num acordo “transparente”,
vigiada pelas câmeras, holofotes e radares
Da Matrix
Galaxys
universais, facebookers,
Twitters, chips
mentais…
WhatsApp!...
dizem os jovens sábios da nação.
V
Os tempos continuam...
Os lobos terão nomes de praças e viadutos,
E, com desespero, aspiram à eternidade
Para durar na Matrix... e ficar condecorado
No monumento da história da barbárie.
Eis a Matrix
Galaxys
universais, facebookers
Twitters, chips
mentais
What’s up...! dizem os lobos honestos
de deus.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
POR UM INSTANTE E SETE DIAS - por Pirro
O último julgamento, de Michelangelo. |
Uma virtuosa e douta jararaca
de barba e cabelos brancos
me pegou de peito aberto
e mordeu meu calcanhar de Aquiles.
Por instante, seu veneno
do tamanho de um hipopótamo
paralisou meus neurônios
e tentou corroer minha língua.
Sua pele se despregou de seu corpo
um ancião surgiu cantando de galo.
E com medo do mar e da morte
apontou seu dedo bíblico para mim,
jogou pedras de pragas em minha cabeça e
disse:
“Um dia, verei um côco - da teoria da
relatividade -
cair em sua cabeça; você dobrando seus joelhos e rogando:
Senhor, perdoe
este servo medíocre, que caiu em pecado”.
Por setes dias, senti
os efeitos do seu veneno.
Por sete dias, olhos
constrangidos
me gretavam de Judas Iscariotes.
Por sete dias, Lilith
cantava a música dos revoltados.
Por mais sete dias,
fiquei injuriado como Caim e Esaú.
Por mais sete dias, o
mendigo Édipo batia em meu peito.
Por mais sete dias, me
curei e me convalesci:
um Aquiles nasceu de
novo pintado de tupi
vibrando seu martelo e seu
punhal
pronto para escalpelaros virtuosos doutos e seu jararaco deus.
(Pirro)
quinta-feira, 13 de março de 2014
CRÔNICA DA VIDA ORDINÁRIA
OS FILHOS DE DEUS
"Thinker on a rock" (Barry Flanegan) |
Estava um dia lindo... Lindo
porque o clima parecia suave como uma velha cachaça mineira degustada com caju;
e o céu estava meio nublado com indícios de chuva. Senti vontade de dar beijos
nas faces da terra e distribuir bons-dias para todos os que passavam por mim.
Subi a Rua Poço do Mero
em direção ao Centro da cidade. Carros atrasados e, por isso, apressados,
buzivavam para eu sair da frente. Eu saltava para a direita, e eles passavam
zunindo em meus ouvidos. Eu contemplava de todos os ângulos a fauna humana
civilizada e dizia para mim mesmo: como esses bonecos são tão egoístas tanto
quanto seu deus!
Na esquina do canal de
esgotos do D. Pedro, ao lado do Mundo da Construção, eis que eu estou parado
esperando o melhor momento para pegar a Avenida Tancredo Neves, um Agile preto veio pela esquerda e avançou
agilmente. O som que vinha de dentro daquela praga era monstruoso. Era música
de mau gosto, e para piorar, o som era ruidoso e grave como se os alto-falantes
estivessem furados. O Agile postou-se
como se fosse me trancar. Olhei para o motorista. O mulato, de óculos azuis
brilhantes e com cara de cristão pagodeiro, não estava nem aí. Fiquei olhando
para ele balançando a cabeça como um calango. Logo que a pista ficou livre do
trânsito intenso, que vinha dos diversos redutos da Zona Norte, ele avançou
queimando os pneus e passando em minha frente, impedindo meu avanço. Depois que
ele passou, eu acelerei. No fundo do Agile
havia uma frase escrita: “Não tenha inveja de mim. Esse foi Deus que me deu”. Acelerei
meu carro até ficar lado a lado com o sortudo. De propósito, fiquei olhando e admirando
aquela massa humana interessante. O passageiro que estava com ele, ao me ver
passando, cutucou o amigo. Este esticou seu pescoço, arregalou o olho esquerdo
e disse gesticulando com delicadeza:
“O que tá olhando,
otário! Vá se foder, seu filho da puta! Mané!”
Como o dia estava lindo
e havia entrado em minhas entranhas como um sopro de fiat lux, eu ri e mandei um beijo para ele, seguindo meu caminho
contornando o viaduto para entrar na Avenida Osvaldo Aranha.
Entrei com cuidado, sem
muita pressa, na mão-direita da Osvaldo Aranha. Olhei a cidade de cima do
viaduto e o dia estava - como os meus cabelos - leve e solto. Deu vontade de me
lançar no horizonte para além da Barra dos Coqueiros ou quem sabe lá para os
lados de Pirambu, e mergulhar na Lagoa Redonda de córregos cristalinos, que são
como os olhos de Cecília Miron... Talvez fosse um desejo de fuga para um sonho
bucólico. Talvez uma espécie de fobia pelo convívio social... Talvez... mas, pelo
menos, alguns dias de fuga poderiam me garantir um relaxamento verde e um breve
esquecimento de nossa admirável civilização.
Parei no primeiro sinal
da Osvaldo Aranha. Pelo retrovisor interno, eu vi um taxista apontando seu dedo
para mim. Parecia ser um dedo rígido e grande como o Dedo de deus que se estende acima da Serra dos Órgãos. Era um
galego de cabelos escorridos e tinha cara de ceboleiro. Não entendi por que ele
estava apontando seu dedo em minha direção. Por um momento, tive dúvidas se aquela
demonstração de amor-ao-próximo era lançada sobre minha face ou se era para
outro felizardo.
O sinal verde abriu,
como se a esperança tivesse acordado de um pesadelo profundo e tentasse unir os
bichos no asfalto da vida moderna. Acelerei o carro levemente, e de modo
progressivo. Nisso, o taxista ultrapassou pela esquerda e urrou:
“Vá dirigir carroça de
boi, seu corno manso”.
Balancei a cabeça como
um calango: hoje é o dia! Eu falei para mim mesmo, Hoje é o
dia!... O cara arrancou com tanta velocidade que nem deu tempo de mandar-lhe um
beijo, importado de Queriote. Respirei
fundo e segui como se nada tivesse acontecido, afinal o dia continuava lindo,
embora o tom cinza já começasse a contaminar meu estômago.
Peguei a Rua Mariano
Salmeron e passei os sinais verdes das ruas Acre, Sergipe e Bahia. Na mesma mão
direita da via, parei no sinal vermelho da Rua Pernambuco com a Salmeron, atrás
de um táxi de lotação do Parque dos Faróis. No para-brisa traseiro, havia uma
imagem de uma santa envolvida por um rosário. Ao lado da imagem, lia-se uma sábia
frase: “Tudo posso naquele que me fortalece”, e um pouco abaixo da frase um
letreiro bem grande: “DEUS”. Sacudi minhas sobrancelhas: só pode ser coisa de
pobre... pobre de espírito, com essa mania de colocar frases-clichês nos
para-brisas de seus automóveis, pensei com um meio-sorriso atravessado na boca.
O sinal verde deu o ar
de sua graça. E, então, o táxi de lotação ficou parado onde estava. Quando
aprumei a vista, eu vi: lá estava o dedo apontado para mim com toda a
civilidade do mundo moderno. O táxi foi saindo lentamente como uma tartaruga de
metal. Num acesso de bicho, girei rapidamente o volante para a direita e passei
por ele. Instantaneamente, girei para a esquerda e tomei a frente raspando a
frente do táxi trancando o filho de deus. Minha intenção era assustá-lo.
Acelerei o carro e atravessei a linha férrea da Avenida Rio de Janeiro tentando
seguir meu caminho.
Depois que peguei a Rua
Laranjeiras subindo em direção ao Centro, olhei pelo retrovisor traseiro não vi
sinal do táxi de lotação. Minha cabeça já estava dando vertigem. Na altura do Bairro
Cirurgia, passei a mão nos meus cabelos leves e soltos, e pensei: “Calma, cara,
calma. O dia está lindo e não merece ser estragado. Você é um bicho racional...
racionalize e pense com quantos paus se faz uma canoa, para que você possa
nadar no horizonte da Lagoa Redonda”. Então, respirei fundo descendo a
Laranjeiras.
No cruzamento da Rua de
Siriri, onde as antigas prostitutas de Amando Fontes exorcizavam o fantasma da
Ordem e do Progresso, olhei de novo pelo retrovisor e avistei o taxista do
lotação fortalecido pelo seu deus, apontando seu dedo para mim, como quem
dizendo “você está fodido”. De repente, ao chegar ao sinal da Rua Propriá com
Laranjeiras, o filho de deus acelerou sua máquina e passou rente a porta do meu
carro me chamando de filho da puta e me trancando. Tive que frear bruscamente
para não bater na lateral do táxi. Suei frio e fiquei atônito, com o ódio
estampado em meu rosto. O sinal abriu e ele acelerou desaparecendo de minha vista.
Fiquei ali parado com os carros, atrás de mim, buzinando em minha alma
engasgada... Passei a mão pelo meu rosto, acelerei o carro e segui em frente
sem esperar mais nada de proveitoso do lindo dia. Enquanto eu pegava a Rua
Capela, lembrei do Messias. Como eu desejei ser o Messias!... Pistoleiro, sim;
mas, também, matador de valentões.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
MULHER DE CONTABILIDADES - por Pirro
"Números e constelações em amor com uma mulher" (Joan Miró) |
Você, mulher de contabilidades
a beleza geométrica de suas planilhas
não consegue calcular a somatória
de meus desejos somáticos
seus encantadores olhos matemáticos
não enxergam as estrelas
que brilham no porão do meu corpo
onde você se encontra
com sua buceta suculenta
cuja memória me deixa
com água-na-boca.
com água-na-boca.
Você, mulher de ousadias e coragens
em rápida e breve passagem
passou feito a desconhecida de Baudelaire
deixando nas paredes de meu ser-tão
o eco de seu sorriso e de sua voz.
Você, maravilhosa paraense,
consegue medir o que um homem sente
quando se encontra perdido
além da exatidão dos números?
Vem cá, flor de croatá, me diz:
existe sexo por osmose platônica...?
Não sou Platão nem tampou’Camões
estou para os poeta-santos de Xivas
na medida
em que me'quilibro
entre suas coxas
sob o nordestino sol do litoral.
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