"Bebe o dono, bebe a dama, bebe o servo, bebe a ama, o burguês com o vago o camponês com o mago. o marginal, o indigente, o moço e o veterano, bebe o abade com o decano, bebe o irmão, bebe a irmã, bebe o velho, bebe a anciã, bebe o nobre, bebe o vil bebem cem e bebem mil. Mas ao beber na alegria, falsos irmãos de nós judiam sempre nos vilipendiam. Quem nos inveja, seja maldito, no livro dos justo não fique inscrito" (Os Goliardos)
Panóptico
sábado, 28 de fevereiro de 2009
AQUARELA BORRADA (por Pirro)
A propina é descolada na esquina
Ela tem a lei ao seu lado.
O tempo passa banhado em mármore
E apaga rostos e rastros de coturnos.
O ato do usuário já não espanta,
Parece tornado natural.
A corrupção é uma virtude genealógica
Que alimenta e move há séculos
O homo sapiens das regiões tupiniquins.
Sua ginga maquiavélica revela
A fome mísera da alma,
Cuja baba de urubus
Gangrena a Hordem e o Progreço.
O uruburguês financia as pastagens.
As autoridades tangem o gado,
Que o fazem escancarar os dentes
Na falsa alegria dos trios elétricos,
Cujos efeitos entorpecem o estômago
E bestializam a consciência.
A ignorância e o preconceito
São imagens curtas, quadros sem tela
Sob o facho de cérebros ofuscados,
Que emitem verdades-vômito
Sobre tudo e sobre nada,
Jogando apenas conversa fora,
Numa troca interativa de banalidade
e merdasofia.
Diante de minha indignação algemada,
Vejo o sistema impor sua tirania tacanha
Com um copo de uísque entre os dedos
E um cigarro entre os lábios esclerosados,
Enquanto injeta no cérebro do rebanho
Seu caô esfarrapado: “use a cabeça,
não use drogas”,
Como se estivesse lidando
com bestas ou seres retardados
Numa Arena Verde-Amarela
Onde o carrasco comanda os açoites
De uma democracia às avessas.
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