O último julgamento, de Michelangelo. |
Uma virtuosa e douta jararaca
de barba e cabelos brancos
me pegou de peito aberto
e mordeu meu calcanhar de Aquiles.
Por instante, seu veneno
do tamanho de um hipopótamo
paralisou meus neurônios
e tentou corroer minha língua.
Sua pele se despregou de seu corpo
um ancião surgiu cantando de galo.
E com medo do mar e da morte
apontou seu dedo bíblico para mim,
jogou pedras de pragas em minha cabeça e
disse:
“Um dia, verei um côco - da teoria da
relatividade -
cair em sua cabeça; você dobrando seus joelhos e rogando:
Senhor, perdoe
este servo medíocre, que caiu em pecado”.
Por setes dias, senti
os efeitos do seu veneno.
Por sete dias, olhos
constrangidos
me gretavam de Judas Iscariotes.
Por sete dias, Lilith
cantava a música dos revoltados.
Por mais sete dias,
fiquei injuriado como Caim e Esaú.
Por mais sete dias, o
mendigo Édipo batia em meu peito.
Por mais sete dias, me
curei e me convalesci:
um Aquiles nasceu de
novo pintado de tupi
vibrando seu martelo e seu
punhal
pronto para escalpelaros virtuosos doutos e seu jararaco deus.
(Pirro)
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