(O pensador, by August Rodin) |
“Quando poderemos começar a naturalizar os seres humanos com uma pura natureza, de nova maneira descoberta e redimida” (Nietzsche)
“Tenho dito que a alma não é mais do que o corpo,
E tenho dito que o corpo não é mais do que a alma,
e que nada, nem Deus, para ninguém é maior do que a própria pessoa" (Walt Whitman)
“Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia”. (Guimarães Rosa)
"A terra não é de deus, nem do diabo, é do homem" (Glauber Rocha)
Debaixo desse dourado sol das Américas -
onde muitas cabeças estiveram a prêmio
para que outras desfrutassem
as maravilhas do século -
Os homens celebram o momento
com fogos, festas e cachaça
e assim conduzem o volante das idéias e de sua maquinaria
para além do bem e do mal.
Seus feitos, suas obras por si só
poderiam desmascarar suas superstições e seus fantasmas.
Todavia esses seres fugitivos
ainda são sacudidos
pelas suspeitas imaginárias
hospedadas em seu estômago.
Vocês homens!
Vocês mulheres!
Vocês crianças do futuro!
Por que essa fuga de tudo que sempre foi humano mundo?
Olhem em torno de vocês
como agora estou olhando
para os aviões
que cortam as nuvens
com suas turbinas e aeromoças sorridentes.
Vejam vocês, ó criadores de tudo humano!
As máquinas e as coisas modernas
(assim como foram as antigas)
são espíritos vivos criados
com sangue, suor e esperma
amor, ódio e lágrimas.
O mito da criação está encarnado em nós
qual Prometeu dos Séculos adentro
esqueçam os anões do niilismo sem futuro
e cantemos uma toada alegre
como o (en)canto do nordestino pela terra molhada
prometendo-lhe dias férteis e fartos.
Eis a velha sabedoria do homem ordinário
que ainda e sempre reina por baixo
de nossa civilização racional e eloqüente!
Essa velha sabedoria que flui e reflui como Heráclito
nas veias cosmopolitas do homem-rio:
tudo muda
e nada muda
(“não há nada de novo debaixo do sol”
num eterno retorno eclesiastes)
como nossas roupagens e designes miméticos através dos tempos.
Rio-homem & fonte-mulher, gestação, plantação, colheita,
laboratórios, aviões, foguetes espaciais, bibliotecas, multimídia,
poesia, manguebeat, rock and roll, blues - vontade e vinho:
e acima de todas as palavras feias ou belas
ergue-se o espírito ativo e duro
com a foice e as idéias estendidas sobre os séculos
abrindo os portões da força criadora
e destruindo a visão pessimista dos espíritos de porco.
Acreditem!
Somos nós o arquiteto das mansões e becos morro acima.
Somo nós o demônio das avenidas,
metrôs, auto-estradas ligando a alma e a máquina.
Somos nós o carpinteiro de nossas próprias casas-Universo.
Somos nós o engenheiro do corpespírito
e da fortitude da vontade.
Somos nós o Deus bêbado da própria vida
dançando como loucos
em torno do círculo vicioso do devir.
Somos nós o macho e a fêmea
da eternidade do passado-presente-porvir.
Oh, somos grandes no que fazemos,
mas ainda pequenos nos receios
da besta que ocultamos!
Deixemos que o animal em nós
repouse com vigor e paz de espírito.
Por que essa caça a nós mesmos
se não podemos castrar
a natureza de nossas tripas?
Nessa caçada, tentamos buscar como Tântalos
a pureza e a perfeição com mil exigências,
mas na verdade somos puros e perfeitos do jeito que somos
e não podemos ser de outro modo, ó filhos da argila!
Nossos feitos são a prova irrefutável
de que Homem-Mulher & Terra se fundem
nas mesmas genealogias e construções
em que a velha sabedoria diz:
“nada caiu do céu de mão beijada”.
Tudo passou pelos calos de nossas mãos
agilidade de dedos e fibras nervosas.
Porém, vocês homens modernos
sempre estão voltando à estaca zero
lançando sombras e suspeitas sobre a Terra.
É chegado o tempo de o espírito caminhar
com suas próprias pernas aos pulos.
Temos de ser sol o bastante
para superar os restos de sombras e medos
que pairam sobre o nosso sagrado mundo.
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