Panóptico

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

COME ON, BABY (por Pirro)


(Genesis by Robert Crumb)

Ok, garota, confesso,
eu sei que há uma pedra em meu sapato
mas o deus da sacanagem segredou-me
os mistérios da vida e nos abençoou.
Monte na serpente embriagada;
o pecado é uma ilusão do medo –
Vem, belo animal,
trepe comigo, só esta noite.
Ah, esqueci.
Você é uma casta devota
de dourados castelos
à espera do palhaço encantado
ornado de olhos macios e camisa de seda
como os “ídolos” da televisão.
Saiba que com o tempo
o coração acaba desembestando
em gruídos de beatas
rabugentas e frustradas.
Por que contemplar
um deserto judaico de dor?
Queime a bíblia, destrua a Igreja,
se lance como uma pantera
em torno da bela carniça,
Solte as lavas de seu vulcão
estrogenado,
você é pura nitroglicerina!

“Come on baby, light my fire”!
Não represe seu indomável corpo,
pensando no que os idiotas vão falar,
o vizinho é um parasita moral
que vê maldade até num macaco
descascando banana.
Vamos rezar na Sacra Orgia
“dancing in the dark”
como dois demônios dionisíacos.
(Já pensou, foder no altar
num dia de ação de graças!)
O céu e o inferno transpiram
na castidade de nossa carne, pulsões e mente
num frenesi ditirâmbico
de delicadezas, embates e metidas.
Ah, esqueci.
Você é uma moça de família
com pose de “papai-e-mamãe”,
mas eu sei qual é a sua,
no fundo deseja ser bem tratada.
Me diga, vítima das madames mascaradas,
por que se encantar
com as fachadas cor-de-rosa
computando dívidas e dúvidas?
Pense nos sacerdotes
batendo punhetas claustrofóbicas,
ou nas “irmãs” que em vão
põem cadeados em seus clitóris,
lembre-se de Betsabá
num deserto de volúpia, júbilo e dor,
e arranque essa couraça metafísica e rude
que sufoca o vulcão entre suas pernas.
Não tenha medo dos lobos famintos
que uivam sob sua janela,
afinal, você é pura nitroglicerina.

Come on, anjo louco,
acenda meu cigarro só esta noite,
trepe comigo como se fosse a última vez
pensando nas reflexões chapadas
do velho Henry Miller
para que dancemos bêbados
no prazer de existir.
Sinta os milagres de um deus ereto
girando
em torno e dentro
de seu “pussy planet” –
cheio de alucinógeno e ditirambo.
Mas quando o monte Citéron
de nossos instintos pegar fogo,
não renegue sua sagrada animalidade
como fez a beata elisabetana
Katherine Stubbes
que execrou sua cadelinha de estimação
mergulhando no céu crucificado
de sua neurótica ilusão.
Como on, baby, acenda o meu fogo!
O tempo ri dos indecisos e medrosos
e abençoa os ousados
que se lançam ao proibido.
(Pirro)

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