Panóptico

terça-feira, 15 de novembro de 2011

LITANIAS DE CAIM E ABEL (por Pirro)

“Caim, Caim, Caim!”
Latem hoje em tempos de PT
(partindo os trabalhadores)
os vira-latas deserdados e sem-revolta
no submundo proletário da cidade.
“Abel, Abel, Abel!”
A-bel prazer cantam vaidosos
os uruburgueses, políticos e religiosos
no ritual da Catedral metropolitana
de onde seu deus cristão-fascista
os abençoa
como um monstro cinicamente manso
pregado num crucifixo banhado de ouro
nos azulejos brilhantes do “Planalto Central”.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

IMAGENS DO SERTÃO (por Pirro)

"Sertão" In: http://mboitata.wordpress.com/2010/05/19/sertao/
  


















Andei pelos outeiros e terras de caatinga
onde os animais farejam a eternidade
               ouvindo ao longe
o aboio rouquenho de meus ancestrais.
Tive a companhia dos cães
nas estradas da noite
onde às vezes me assustava
com o movimento dos mameleiros
no escuro das encruzilhadas do sertão.
Com o tempo descobri que não havia fantasmas
e deus não passava de uma ilusão travessa.

Vi homens coçando suas cabeças
e contando os seus parcos vinténs
entre seus dedos encardidos
como se os calos da vida apertassem os pés
dentro de seus rolós couro-de-bode
nos sábados de feira em Itabi.


Não esqueci dos amantes na praça
jurando o mundo e o fundo
em suas alegres sacanagraças
sem se preocupar com as curvas do futuro.
Uma noite, filmei como Almodóvar,
a jovem desesperada agarrar

o facão da madrugada cortante
e dizer que a vida não tinha sentido,
mas o sol bateu em seu inocente rosto
ela desistiu, pegou a estrada e partiu.


Flagrei os católicos e os evangélicos
polindo o trono do santo mercado
para enfeitiçar a manada confusa.
Vi homens alimentando seus casamentos
em copos e mais copos no Deskite Bar,
e suas mulheres mal-humoradas
indo todos os dias à missa das sete
para adorar o homem crucificado.


Fotografei um garoto levar um cascudo do pai
por ter furtado inocentemente um bago de cana:
foi sua primeira lição na escola da vida.
Em meio ao milharal a se perder de vista
ele bateu sua primeira punheta
e sentiu o sol banhar o espírito:
foi sua primeira forma de auto-conhecimento.

Ouvi as mães chorarem de alegria
                na dor do parto
porque o futuro rebento da Terra
                     acabara de vir à luz
                      para perpetuar a semente.

O sol ancestral de(s)marca auto-estrada
trilhas, cidades, pastagens, plantações,
prisões e livrarbítrios: aponta a seta nos confins
                                                  d’alguma meta...
 O Sertão de Dionísio sofre e canta
os movimentos embriagados da criação
nos corações que estrondam e pulsam
tornando-se nervosas fibras de aço
para suportar as tempestades
e as peripécias do destino.
                                                                               (Pirro)

UM OLHAR SOBRE O SERTÃO (por Sergio "Dedão")

 “Tudo é água” (Tales de Mileto)

Morte cor de cinza
                              ronda
A chuva cai e a morte se esvai
O verde de múltiplas tonalidades
brota
         da
              própria
                           morte
Como a Fênix brota das cinzas
O úmido torna o solo
                            antes
                      seco
              fértil
A vida brota com os animais
            com as plantas
            “tudo é água”
E Dionísio deus da primavera e da vida
           aparece para festejar a abundância

                           Sergio “Dedão”
                                        26/06/2000

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CANÇÃO DA VIDA (por Sergio Dedão)


Fotografia do filme Árido Movie, do cineasta Lírio Ferreira



“Da vida plena de paixão, pulso e poderio,
Cheio de alegria, porque, pela forma mais livre que há debaixo das leis de Deus,
O homem moderno eu canto.”
(Walt Whitman, Folhas de Relva)










Eu canto a vida e a fome de viver
Eu canto a superação do sofrimento e da dor
Eu canto o insistente Amor
Eu canto a vida e a superação da morte
Eu canto o beijo na boca
Eu canto o beijo na face de meu filho
Eu canto ao acordar pela manhã e estou vivo
Eu canto os “Cânticos dos cânticos”
Eu canto a fé na vida
Eu canto àqueles que amamos
Eu canto a existência contraditória do Homem
Eu canto a celebração da vida regada a um bom vinho
Eu canto a mim e aos que virão depois de mim
Eu canto para morte porque estou vivo
Eu canto as contradições da natureza humana
Eu canto aos olhos que se abrem pela manhã
                para deslumbrar-me com a beleza da Mãe Terra
Eu canto para aquele que compreende que está doente
               é um estado da mente
Eu canto para aqueles que amam a vida desvairadamente
Eu canto para você
                                 Tânia
                                13/08/2007