Panóptico

quarta-feira, 14 de julho de 2010

METAPOEMA VISCERAL I

Meu verso irrompe de dentro de mim
            como o sorriso de uma criança
nos cubículos de uma favela do Terceiro Mundo
ou nas ruas novayorkinas de Basquiat.
Meu verso é como um Sócrates esfarrapado
sentado no calçadão da 13 de Julho orgulhosa
assistindo ao pequeno glamour primeiro-mundista
de Aracaju.
Meu verso é como um urro destruidor
       de poses e conceitos
             ante os holofotes americanos,
tem tudo a ver com caos e revolta
no underground da mente
onde há um concerto de rock and roll
repleto de fumaça, uísque e sexo.
Meu verso cospe nos sapos
                      da indigestão moral
e dá à luz a um hipster-beleza
           pronunciando cânticos hereges
e abraçando a geração
que anunciou a morte de deus.
Meu verso mija no plenário
                  do Congresso Federal
e dispõe de um falo rabiscado
                  por Felicien Rops
que serve como parque de diversão
para as Madalenas que eu amo.
Meu verso é a enxada do nordestino
que rasga a caatinga do sertão
esperando a chuva cair para fazer a festa.
Meu verso é a sentinela atenta
 sobre o pico do Aconcágua
ouvindo em silêncio
             as epopéias e tragédias da América
como nas telas revi-vidas
             de Glauber ou Scorsese.
Meu verso se eletrifica
         nos ímpetos do corpespírito
sob um tropel de paixões
             afirmadoras e saudáveis.
Meu verso tem como coordenação motora
a própria necessidade encarnada na terra.
É por necessidade então que varo os dias
consumindo a cachaça de meu corpespírito
e vagando inquieto pelo fabulário cotidiano
como os pássaros negros de um filme noir.
(Pirro)

METAPOEMA VISCERAL II

A poesia brota da Terra feito cacto
num realismo impressionista
de tripas-medula-sêmem-coração.
O autêntico poeta é como um cão largado
como quem se embriaga de entorpecentes
e não se importa
com os manuais gelados da bestética.
A crença no “belo” é para os poetas das ruas
uma fantasia adolescente de donzelas
à espera de um príncipe encantado.
A maioria dos poetas é rãs de pântano
e seus versos são como carne de galinha de granja
cheios de hormônios artificiais,
suas imagens poéticas são frias
como as vísceras de porco
sobre as bancas das feiras –
nada dizem além de suas dores de cotovelos.
Esses poetas de receituários
não vivem, apenas devaneiam
por trás de seus belos versos e idéias.
Sua poesia mata a vida e renega a terra
com suas entranhas
escoriadas de delírios e histerias
Eles são somente espantalhos do espírito
tremulando nas colunas
dos jornais ou sites coloridos.
Deixem os metafísicos sem sangue
se deleitarem nas cadeiras de ouro
de suas academias.
Não fomos nascidos
para tomar chá no asilo dos imortais
             sobre tapetes vermelhos
        vendendo homenagens
aos sábios de fachada.
Que o nosso mundo seja redimido
pelo poema-homem-mulher real
com toda a eletricidade da carne viva
inscrita no papel em branco da Terra
sem frescuras nem ilusões estúpidas.
                                                                    (Pirro)