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(Mulher descalça de mãos vazias - por Gregório Múcio) |
Permito que os nossos corpos
debrucem sobre a melancólica pedra do esquecimento
desnudados de ilusões e da tentação lasciva do efêmero
o que foi passado é canto de rouxinol, para servir de alento
ao meu insaciável apetite de emoções, estética e ética
eu que sou analfabeta
dos caminhos que traçam os corações dos homens
dos caminhos que traçam os corações dos animais
não sei lapidar pedras, nem lascar pedras, nem lavrar pedras
fico só a contemplar o pálido mármore
se jogar o lápis fora, torno-me também pedras
e antes que tais estranhos momentos levem candelabros para os
muem-bote¹.
o líquido vermelho tinto escorregará na ponta enferrujada da
ferramenta
Denunciando
essa mulher em vida foi analfabeta
dos caminhos que traçam os corações do planeta
em terras abajo terras, rio abajo rio
não crescerá o jasmim da infância
crescerá poesia queimada ao sol
muda, fundida com pedras, da cor de lavanda e areia
vigiando o tempo de mãos dadas com a eternidade
colherei no efêmero o pó que soprei em vida.
¹ Segundo os budistas: espíritos inquietos sem parentes para enterrá-los.
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