Panóptico

sábado, 28 de fevereiro de 2009

ARACAJU (por Pirro)












Por que hei de passar as mãos em seus cabelos
se embaixo deles
existe uma grande cabeça oca
arquitetando suas bases e diretrizes?
Por que iria ocultar suas farsas e fossas
embaixo do tapete
como sempre fizeram suas ilustres raposas?
Por que iria tirar as sandálias
e ofertar-lhe poemas e músicas
no dia do seu aniversário
como fazem os artistas
sem sangue da terrinha
estufados de tolices idealistas?
Por que me tornaria um vira-lata
de sua politicalha retórica
que sempre soube domesticar
o espírito do rebanho
com suas emendas e tapa-buracos?
Por que teria de compartilhar
com suas lições de moral
e cacarejar suas rezas doentias ou fingidas,
se minha fé foi plantada
na saúde selvagem
dos desregrados da Terra?
Por que iria me lambuzar
em seus carnavais ridículos
se me deparo
com uma admirável merdosofia
lustrando seu intestino grosso provinciano?
Na verdade, não vivo por conveniência
de guardanapos
deslizando delicadamente na boca da alta roda.
Não tenho o orgulho besta
de seus urbanóides queridos
nem a "urbanidade" gramatical
do professor John.
Prefiro pichar respeitosamente
as fachadas barrocas
de sua culturanemia tecnoescatológica.
Como Bukowski acariciou 
                      os muros de Los Angeles,
assim eu pinto um diabo-máscara
nas ruas de Aracaju.

                                                                             (Pirro)

Nenhum comentário: