Panóptico

domingo, 19 de julho de 2009

SOBRE AS CINZAS DE DEUS (por Pirro)

"Cristo morto" - by Maurizio Bottoni (2004) Colezione dell'artist - Milano
O estômago se retorce de náusea
pelas mentiras metafísicas
que tentam cortar as asas
qual tesoura afiadíssima
para esbarrar o devir dos dias
ante o feitiço de suas verdades.
Mas, meu olhar anormal entrevê
um paraíso absurdo encravado
na musculatura nervosa
do platonismo cristão.
Um deus ridículo chora de dor
apreciando
suas pobres mãos crivadas de prego
desafiando
a vontade de viver.
Diante dessa visão do hospício-homem,
balanço a cabeça
e lanço-me na tempestade
sob a embriaguez do sol.
Como um pássaro negro
furo o mau olhado
dos destruidores da terra.
Bêbado como um cachorro,
afago minha máscara
e gargalho alto na praça
onde prostitutas cheirosas
rondam o poço em transe dos homens.
Mais vivo do que nunca
celebro a vida do Pirro
sem metafísica
e passo a amar a tempestade
num rosto de mulher.
Danço na companhia de Raimundo dôido
de Itabi
e entro em comunhão com o mundo
cantando os hinos-Terra de Walt Whitman
e andando sobre as cinzas de deus
pelas ruas de Aracaju.
                                                                 (Pirro, participação especial de Beto Oião)

2 comentários:

Pulp-me disse...

Rapaz... tem é tempo isso. Eu nem me lembrava.

Pirro disse...

Porra, cara, tive de preservar o poema porque foi expurgado como uma ode à vida. E com isso tive de registrar sua participação literal em alguns versos.