Panóptico

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

MANDAKARU (por Pirro)

“Sou como mandacaru: nem dá sombra,
nem dá encosto”
(expressão popular)


Neste ermo de catingas e brenhas,
se enraíza meu esqueleto de cacto
a refletir sua arquitetura desleixada
na tela do pôr do sol do SERtão.
Quando estranho o absurdo em mim
descubro a virtus de meus espinhos
e me flagro Mandakaru.

Privado de belas folhagens
me adapto à seca desolação.
Com fome de tempestade
tento me erguer como um carcará
mas eu não posso sair de mim
nem me transformar em camaleão:
Minha sina é projetar espinhos
pois sou Mandakaru.

Assim real e vivo como um teiú
vagando pelos confins dos sertões
escuto o canto dos caburés noturnos
e sinto as taças noctifloras do corpoespírito
revelarem-se através de meus poros
que se adensam em bemalmequer:
eis os contrários à flor dos espinhos
deste ser Mandakaru.

Carrego em meu semblante sulcado
como a terra de meus pais e avós,
a tirania das longas estiagens
bem como a violência das trovoadas,
que arrasta em sua espiral
fragmentos de vidas e utopias;
mas continuo sobrevivendo às catástrofes
e resistindo aos meus próprios espinhos:
Afinal, sou Mandakaru.
                                                                             (Pirro)


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