Panóptico

sábado, 13 de fevereiro de 2010

ALQUIMIA DOS AFETOS


Nitimur in vetitum” (Ovídio)
A noite se dissolve na alquimia dos afetos
os malditos mordem o umbigo das prostitutas
bem relaxados e o cérebro fervendo
feito chaleira de café.
A esfinge louca que somos se reconhece
no coração do mercado-noite
onde os animais furtivos
pedem uma dose de conhaque
para esquentar seus delírios e delitos
a fim de fugir da patologia
da normalidade repressiva.
Cá estamos nós entre homens e mulheres
nas avenidas e ruas da noite acesa
tragando a cachaça do momento único.
Aos cambaleios poético-etílicos traçamos
o mapa de nossos subterrâneos
como quem pesca nas madrugadas
do Rio Sergipe.
Uivamos canções ao proíbido
em que o animal inocente
de Rilke nos diz: “é às noites
que minha alma se confia”.
Quando o dia abre os olhos
descobrimos que o céu e o inferno
se fundem no sangue-firmamento
de nossas secretas e sangrentas paixões.
(Pirro)

6 comentários:

Nabuco disse...

Injuriado, me passaram teu blog. Foi uma excelente poetisa (Raquel Donegá) que sabe o que considero poesia de qualidade: fractal mas direta, sem firulas estéticas que engrandecem o ego de quem as escreve. Simplesmente excelente!
De cara, te faço uma pergunta: atuo com dois blogs, um deles referente a minha profissão (agroenergiaregional.blogspot.com) e o outro como fragmento da minha liberdade pessoal (buracodoidolinhasaereas.blogspot.com) onde posto coisas minhas e de figuras de alta qualidade como você. Peço-lhe permissão para postar escritos seus em buracodoidolinhasaereas, com todos os créditos (obviamente autor, data de postagem e blog do escritor postado). Mesmo que a resposta for negativa (vc não tem que confiar em quem não conhece) serei seguidor do seu blog. Parabéns!

Pirro disse...

Fico satisfeito, Nabuco, pelo seu reconhecicmento crítico. Confesso que já fiz "firulas estéticas' beirando o simbolismo rebuscado, cheio de metáforas e palavras polidas que só eu entendia. Era um jovem romântico sem noção. Hoje tenho pavor disso. Ainda rabisco esses resquícios, mas continuo buscando a palavra exata e simples como uma dose de cachaça. É fácil escrever difícil, de modo rebuscado. O difícil mesmo é escrever fácil, digo com simplicidade e realismo crítico, como fizeram Rubem Fonseca, John Fante, Bukowski e Henry Miller... É imenso o rebanho de escritores/as que escrevem sem-sangue e só bebem coca-cola, sóbrios demais. Prefiro acreditar nas palavras de um bêbado dionisíaco.
Você tem permissão para postar meus escritos, sim. Fique à vontade. Valeu mesmo! (Pirro)

ARTESÃ DAS LETRAS disse...

Oi poeta ! quero dizer-te que teu realismo é uma flecha que atinge a alma, viajei na tua poesia, oscilamos entre amores e desamores , nos labirintos da misteriosa mente! "aos cambaleios poético-etílicos traçamos o mapa de nossos subterrâneos", é por aí mesmo!!!
Teu canto poético é o uivo do chacal prenunciando uma nova maneira de se expressar, é pura liberdade e clareza e isso é que chama atenção, a verdade nua e crua, as letras também sangram! A tua poesia é pura pimenta, adorei, meus sinceros parabéns!
Perdoe-me a demora em te responder, gostei muito do teu comentário no meu blog, tudo a ver, bingo!
bjs Taís

Pirro disse...

Feliz, o seu comentário. Significa que você compreendeu o sertão de meu espírito. Estamos juntos nessa lida-luta poética como visionários. Valeu mesmo!

Raquel Donegá disse...

Adoro isso, por isso sempre volto!

bjks

Quel

Pirro disse...

Obrigado, Raquel.