Panóptico

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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

IMAGENS DO SERTÃO (por Pirro)

"Sertão" In: http://mboitata.wordpress.com/2010/05/19/sertao/
  


















Andei pelos outeiros e terras de caatinga
onde os animais farejam a eternidade
               ouvindo ao longe
o aboio rouquenho de meus ancestrais.
Tive a companhia dos cães
nas estradas da noite
onde às vezes me assustava
com o movimento dos mameleiros
no escuro das encruzilhadas do sertão.
Com o tempo descobri que não havia fantasmas
e deus não passava de uma ilusão travessa.

Vi homens coçando suas cabeças
e contando os seus parcos vinténs
entre seus dedos encardidos
como se os calos da vida apertassem os pés
dentro de seus rolós couro-de-bode
nos sábados de feira em Itabi.


Não esqueci dos amantes na praça
jurando o mundo e o fundo
em suas alegres sacanagraças
sem se preocupar com as curvas do futuro.
Uma noite, filmei como Almodóvar,
a jovem desesperada agarrar

o facão da madrugada cortante
e dizer que a vida não tinha sentido,
mas o sol bateu em seu inocente rosto
ela desistiu, pegou a estrada e partiu.


Flagrei os católicos e os evangélicos
polindo o trono do santo mercado
para enfeitiçar a manada confusa.
Vi homens alimentando seus casamentos
em copos e mais copos no Deskite Bar,
e suas mulheres mal-humoradas
indo todos os dias à missa das sete
para adorar o homem crucificado.


Fotografei um garoto levar um cascudo do pai
por ter furtado inocentemente um bago de cana:
foi sua primeira lição na escola da vida.
Em meio ao milharal a se perder de vista
ele bateu sua primeira punheta
e sentiu o sol banhar o espírito:
foi sua primeira forma de auto-conhecimento.

Ouvi as mães chorarem de alegria
                na dor do parto
porque o futuro rebento da Terra
                     acabara de vir à luz
                      para perpetuar a semente.

O sol ancestral de(s)marca auto-estrada
trilhas, cidades, pastagens, plantações,
prisões e livrarbítrios: aponta a seta nos confins
                                                  d’alguma meta...
 O Sertão de Dionísio sofre e canta
os movimentos embriagados da criação
nos corações que estrondam e pulsam
tornando-se nervosas fibras de aço
para suportar as tempestades
e as peripécias do destino.
                                                                               (Pirro)

UM OLHAR SOBRE O SERTÃO (por Sergio "Dedão")

 “Tudo é água” (Tales de Mileto)

Morte cor de cinza
                              ronda
A chuva cai e a morte se esvai
O verde de múltiplas tonalidades
brota
         da
              própria
                           morte
Como a Fênix brota das cinzas
O úmido torna o solo
                            antes
                      seco
              fértil
A vida brota com os animais
            com as plantas
            “tudo é água”
E Dionísio deus da primavera e da vida
           aparece para festejar a abundância

                           Sergio “Dedão”
                                        26/06/2000

terça-feira, 12 de julho de 2011

SÓ SEI QUE NADA SEI DE MIM, SENHORA FELIZ... (por Pirro)


Fotografia de Hernany Caburé





















Só sei que nada sei de mim, Senhora Feliz
Cidade das pedras frias dos homens
Mandacaru sob os meus pés
Acri Clube de "tabocas"
Presenteadas por garotas prendadas
Tão lindas de morrer
Em noites de cervejas e Hi-fi
Sob os embalos de sábados
Ouvindo e dançando Boys don't Cry
É a memória fincada em meu corpo, Senhora Itabi
Na dureza antiga e sertaneja
Das Pedras da Paciência,
Que me ensinou a ser-tão
Simples matuto do mato
Como um jegue matando o tempo
No cair do crepúsculo de suas ruas.
                                                                                                      (Pirro)