Panóptico

quarta-feira, 7 de maio de 2014

POR UM INSTANTE E SETE DIAS - por Pirro

O último julgamento, de Michelangelo.
















Uma virtuosa e douta jararaca
de barba e cabelos brancos
me pegou de peito aberto
e mordeu meu calcanhar de Aquiles.
Por instante, seu veneno
do tamanho de um hipopótamo
paralisou meus neurônios
e tentou corroer minha língua.
Sua pele se despregou de seu corpo
um ancião surgiu cantando de galo.
E com medo do mar e da morte
apontou seu dedo bíblico para mim,
jogou pedras de pragas em minha cabeça e disse:
“Um dia, verei um côco - da teoria da relatividade -
cair em sua cabeça; você dobrando seus joelhos e rogando:
Senhor, perdoe este servo medíocre, que caiu em pecado”.

Por setes dias, senti os efeitos do seu veneno.
Por sete dias, olhos constrangidos
me gretavam de Judas Iscariotes.
Por sete dias, Lilith cantava a música dos revoltados.
Por mais sete dias, fiquei injuriado como Caim e Esaú.
Por mais sete dias, o mendigo Édipo batia em meu peito.
Por mais sete dias, me curei e me convalesci:
um Aquiles nasceu de novo pintado de tupi
vibrando seu martelo e seu punhal
pronto para escalpelar
os virtuosos doutos e seu jararaco deus.
                                                                                 (Pirro)

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