Panóptico

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sábado, 1 de janeiro de 2011

A CATEDRAL (por Clark Bruno)














Os sinos batem
Meia-noite
Num quarto apertado uma puta finge gemer
Ao seu lado um desconhecido aperta o bico
do seu seio
Como num rádio antigo, ele procura a melhor
sintonia
Enquanto na catedral, a velha prostituta-matriz
Um mendigo acende um derby e sopra a
Fumaça para a lua
Em sua volta meninos de preto profanam
A santa puta rainha das procissões,
             como símbolos de escárnio
Estão cansados de sua pontual ditadura cotidiana
Porque todos sabem, do ladrão ao delegado
que a catedral nunca atrasa
Aracaju, sim, vive a se atrasar ao girar sem
sair do lugar
Numa órbita aterrorizante de estagnação
Não é à toa que suas ruas vira-e-mexe dão
no mesmo lugar
Na fossa natural do atraso mental chamado
Rio Sergipe
Onde é despejada a mais tradicional merda
Aracajuana
A merda eletrizada ao som baiano e vestida
de blindex e granito
E a catedral?
Fazendo igual ritual
Meia noite e meia
Mais uma batida
A prostituta mente ao gozar
O desconhecido tira duas notas amassadas do bolso
O mendigo faz um carrinho de supermercado
de cama
Os meninos de preto
 já há muito cheios de 51 com coca
Gritam: Deus morreu!
Outra batida
A polícia chega
Alguém assustado apaga um baseado
Uma beata com insônia começa a orar.