"Bebe o dono, bebe a dama, bebe o servo, bebe a ama, o burguês com o vago o camponês com o mago. o marginal, o indigente, o moço e o veterano, bebe o abade com o decano, bebe o irmão, bebe a irmã, bebe o velho, bebe a anciã, bebe o nobre, bebe o vil bebem cem e bebem mil. Mas ao beber na alegria, falsos irmãos de nós judiam sempre nos vilipendiam. Quem nos inveja, seja maldito, no livro dos justo não fique inscrito" (Os Goliardos)
Panóptico
quarta-feira, 23 de março de 2011
ESPIRAL (por Marcelo Primo)
Uma vez tentado o incurso às margens dessa mesmice latente,
È inevitável o embate com a espiral da existência, a mim presente...
Fazendo-me circular e circular, procurando sentido a esmo,
Anúncio de um fim deveras conhecido,
o enfadonho retorno do mesmo...
Suficiente já é uma olhada en passant à minha volta,
Floresce a verve, inflamada pela angústia, asco, revolta...
Mas a espiral age pelas entranhas, hic et nunc, fisiologicamente,
Labirintite do real, giros e mais giros, sucessivamente...
È possível fincar-se na razão, diante das vertigens mundanas?
Diante da descarada letargia, que aí está deixando mentes insanas...?
Ser, estar... é como lançar uma diatribe a um absurdo quixotesco,
Com a morte na alma é dizer pouco deste estado espúrio, grotesco...
Volto, vacilante, perpassando mais uma volta dentro da espiral,
Trajeto sinuoso, tortuoso, que sempre conduz ao mesmo final...
Ora, mas que é esse fim senão um começo?
O mesmo ponto de partida
Que encontro em todos os lugares e momentos, não havendo saída...
(By Marcelo Primo)
terça-feira, 8 de março de 2011
A PERFEIÇÃO IMPERFEITA DE AFRODITE (por Easy Rider/SP)
Para Jéssica
Estou perdido em seus olhos cosmológicos universais
Afrodite, os deuses brincam com a minha mente mortal
Afrodite, o tempo é eterno e finito diante de sua imagem
Afogado em devaneios orgásticos, em seus braços desvendo mundos
Dionísio enviou uma musa para testar minha híbris
O som de seus lábios harmoniza
a canção do amor
Afrodite o cotidiano nos sufoca
Estou louco por sua linguagem corporal
Desejo ser alfabetizado e letrado em suas curvas
Decifrar seus desejos e prazeres tornou-se minha missão
Primavera de meu mundo
Sonho em vida real
Afrodite, a loucura nos torna humanos demasiado humanos
Desejo sentir o cheiro da primavera em sua orquídea
Amo:
Sua imperfeição perfeita
Sua inteligência voraz
Sua natureza contraditória
Sua beleza histórica
Minha Marilyn! Amo sua perfeição irônica
A imperfeição perfeita de seus dentes
Minha Marilyn! Amo sua perfeição imperfeita em forma de cicatriz
Minha Afrodite merilyana, toda perfeição
está na imperfeição da vida e da natureza.
está na imperfeição da vida e da natureza.
(escrito por Easy Rider / SP)
POESIA-PANFLETO (por Pirro)
(By Charles Burns - album Brick by Brick, de Iggy Pop) |
“Mostrai-vos sempre prontos a falar sem rebuços e os pulhas vos evitarão” (William Blake).
I
Vou farejando
minha idéia fixa,
como um cão vagabundo
em busca de um pedaço
de osso carnudo
pelas ruas de domingo
no bairro
então me bato com vocês, pigmeus de deus,
que me dizem olá e me estendem a mão.
Eu falo um bom dia, um boa noite
feito diabo dissimulado
e acredito realmente
que vocês vão com a minha cara.
Vejo em todos a imagem
de pregos metidos a martelo!
seus espíritos parecem uma manada
no comodismo de suas pastagens:
schincariol, pagode, axé, deus, Jesus cristo.
Suas crenças são alegrezinhas e falíveis,
seus partidos se espatifam nos esgotos
de suas assembléias e conspirações,
suas mulheres estão depressivas
e vocês estão nervosos.
Se viciaram demais em suas drogas morais
acabaram se intoxicando
e ficaram atrofiados.
Seus sacerdotes e mandatários
querem envenenar a Terra, o corpo,
as coisas, as casas tranqüilas,
os homens e mulheres sadias
com os decretos-leis
de suas neuroses e pessimismos.
Eu sei que por trás de ternos
e casacos de veludo deles
existe um homem morto
com sua fé e sua verdade,
que desiludidos tentam recompor
os cacos de seus ídolos
numa cruzada criminosa contra a vida.
Que por isso se castram a si próprios
e estão pagando um alto preço.
Vocês desejam o céu e ele cheira a sangue:
creio que os santos vão chegar lá
numa bela sexta-feira santa sem datas.
II
E enquanto vocês enchem a cabeça
com mil toneladas de tolices,
estou dançando cheio de vida e vinho
chupando a manga suculenta
de minha puta mais atilada
em qualquer lugar do mundo,
aceitando os meus prós e os meus contras.
E como sou um animal político
e adoro minha máscara,
vamos continuar dizendo olá
apertando a mão com jeito
e encenando um feliz carnaval... ou ano novo.
Ouçam senhores da bondade,
sacerdotes do amor e da democracia,
eu sei o que estimo e aprecio na vida!
por isso vou como barco seguro
saboreando a fúria do vendaval
e o deslizar do Rio São Francisco:
sim, sei curtir minha onda.
Vocês, benfeitores da humanidade
seguem ditando suas regras e modas
como num comboio de carros luxuosos
com potência de 600 cavalos
e não-sei-que-das-quantas
desembestando suas angústias
pelos bulevares do mundo.
Como vocês fazem tempestade
num copo d’água!
E como são desconfiados e esquivos
por trás do paraíso
por trás do paraíso
de seus shopping centers!
Sem dúvida, vocês progrediram
e inventaram a modernidade
e o sexo virtual.
Eu os saúdo e alegro-me com vocês –
afinal, somos filhos do século XXI.
Contudo, meus chapas
vocês bestificaram o espírito
e ele não enxerga mais seus feitos
demasiados humanos:
a Terra o corpo o sangue o suor a sexualidade a cultura
as corporações químicas-fisiológicas-materiais-tecnológicas:
tudo argila sagrada de nossas mãos,
ó animal entre os animais!
No entanto, vocês são filhos do pecado
aprisionados na camisa de força
de seu tristíssimo deus.
Por isso condenam a vida terreno-mundana
das mulheres masofogosas
e de homens que as levam no colo,
receitando o veneno injuriado para os pequenos moralistas
que parecem molambos em cima do muro.
Quando é que vocês arrancarão os farrapos de deus
e se tornarão aristocratas do espírito?
Quando deixarei de ouvir suas lamentações
de Jeremias sentimentais
e de diabinhos arrependidos?
e de diabinhos arrependidos?
III
De qualquer modo vamos continuar dizendo olá
enquanto eu sigo minhas veredas
andando com o Velho Whitman,
Buk, Miller, Fante, Fonseca
e com todos os meus velhos camaradas
trocando com vocês cartas, fichas, moedas
e afetos que não podem ser pronunciados.
Vocês continuam vagando com seus paradigmas
tateando a cruz dos pessimistas neuróticos;
e eu pegarei o coletivo da vida
e seguirei tranqüilo
respirando a leveza dos pardais vadios
porque me tornei meu quando e meu onde:
agora existo e o momento é tudo,
a Terra é o seu sentido e dele me apossei.
É dela o meu corpespírito, sua plantação
e colheita, alimentação e eletricidade
amores violentos, trepadas e renascimentos.
Sou eu meu próprio deus e meu próprio demônio.
sábado, 1 de janeiro de 2011
TUDO HUMANO MUNDO (por Pirro)
(O pensador, by August Rodin) |
“Quando poderemos começar a naturalizar os seres humanos com uma pura natureza, de nova maneira descoberta e redimida” (Nietzsche)
“Tenho dito que a alma não é mais do que o corpo,
E tenho dito que o corpo não é mais do que a alma,
e que nada, nem Deus, para ninguém é maior do que a própria pessoa" (Walt Whitman)
“Amável o senhor me ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia”. (Guimarães Rosa)
"A terra não é de deus, nem do diabo, é do homem" (Glauber Rocha)
Debaixo desse dourado sol das Américas -
onde muitas cabeças estiveram a prêmio
para que outras desfrutassem
as maravilhas do século -
Os homens celebram o momento
com fogos, festas e cachaça
e assim conduzem o volante das idéias e de sua maquinaria
para além do bem e do mal.
Seus feitos, suas obras por si só
poderiam desmascarar suas superstições e seus fantasmas.
Todavia esses seres fugitivos
ainda são sacudidos
pelas suspeitas imaginárias
hospedadas em seu estômago.
Vocês homens!
Vocês mulheres!
Vocês crianças do futuro!
Por que essa fuga de tudo que sempre foi humano mundo?
Olhem em torno de vocês
como agora estou olhando
para os aviões
que cortam as nuvens
com suas turbinas e aeromoças sorridentes.
Vejam vocês, ó criadores de tudo humano!
As máquinas e as coisas modernas
(assim como foram as antigas)
são espíritos vivos criados
com sangue, suor e esperma
amor, ódio e lágrimas.
O mito da criação está encarnado em nós
qual Prometeu dos Séculos adentro
esqueçam os anões do niilismo sem futuro
e cantemos uma toada alegre
como o (en)canto do nordestino pela terra molhada
prometendo-lhe dias férteis e fartos.
Eis a velha sabedoria do homem ordinário
que ainda e sempre reina por baixo
de nossa civilização racional e eloqüente!
Essa velha sabedoria que flui e reflui como Heráclito
nas veias cosmopolitas do homem-rio:
tudo muda
e nada muda
(“não há nada de novo debaixo do sol”
num eterno retorno eclesiastes)
como nossas roupagens e designes miméticos através dos tempos.
Rio-homem & fonte-mulher, gestação, plantação, colheita,
laboratórios, aviões, foguetes espaciais, bibliotecas, multimídia,
poesia, manguebeat, rock and roll, blues - vontade e vinho:
e acima de todas as palavras feias ou belas
ergue-se o espírito ativo e duro
com a foice e as idéias estendidas sobre os séculos
abrindo os portões da força criadora
e destruindo a visão pessimista dos espíritos de porco.
Acreditem!
Somos nós o arquiteto das mansões e becos morro acima.
Somo nós o demônio das avenidas,
metrôs, auto-estradas ligando a alma e a máquina.
Somos nós o carpinteiro de nossas próprias casas-Universo.
Somos nós o engenheiro do corpespírito
e da fortitude da vontade.
Somos nós o Deus bêbado da própria vida
dançando como loucos
em torno do círculo vicioso do devir.
Somos nós o macho e a fêmea
da eternidade do passado-presente-porvir.
Oh, somos grandes no que fazemos,
mas ainda pequenos nos receios
da besta que ocultamos!
Deixemos que o animal em nós
repouse com vigor e paz de espírito.
Por que essa caça a nós mesmos
se não podemos castrar
a natureza de nossas tripas?
Nessa caçada, tentamos buscar como Tântalos
a pureza e a perfeição com mil exigências,
mas na verdade somos puros e perfeitos do jeito que somos
e não podemos ser de outro modo, ó filhos da argila!
Nossos feitos são a prova irrefutável
de que Homem-Mulher & Terra se fundem
nas mesmas genealogias e construções
em que a velha sabedoria diz:
“nada caiu do céu de mão beijada”.
Tudo passou pelos calos de nossas mãos
agilidade de dedos e fibras nervosas.
Porém, vocês homens modernos
sempre estão voltando à estaca zero
lançando sombras e suspeitas sobre a Terra.
É chegado o tempo de o espírito caminhar
com suas próprias pernas aos pulos.
Temos de ser sol o bastante
para superar os restos de sombras e medos
que pairam sobre o nosso sagrado mundo.
A CATEDRAL (por Clark Bruno)
Os sinos batem
Meia-noite
Num quarto apertado uma puta finge gemer
Ao seu lado um desconhecido aperta o bico
do seu seio
Como num rádio antigo, ele procura a melhor
sintonia
Enquanto na catedral, a velha prostituta-matriz
Um mendigo acende um derby e sopra a
Fumaça para a lua
Em sua volta meninos de preto profanam
A santa puta rainha das procissões,
como símbolos de escárnio
Estão cansados de sua pontual ditadura cotidiana
Porque todos sabem, do ladrão ao delegado
que a catedral nunca atrasa
Aracaju, sim, vive a se atrasar ao girar sem
sair do lugar
Numa órbita aterrorizante de estagnação
Não é à toa que suas ruas vira-e-mexe dão
no mesmo lugar
Na fossa natural do atraso mental chamado
Rio Sergipe
Onde é despejada a mais tradicional merda
Aracajuana
A merda eletrizada ao som baiano e vestida
de blindex e granito
E a catedral?
Fazendo igual ritual
Meia noite e meia
Mais uma batida
A prostituta mente ao gozar
O desconhecido tira duas notas amassadas do bolso
O mendigo faz um carrinho de supermercado
de cama
Os meninos de preto
já há muito cheios de 51 com coca
Gritam: Deus morreu!
Outra batida
A polícia chega
Alguém assustado apaga um baseado
Uma beata com insônia começa a orar.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
EXALTAÇÃO À AMIZADE
“Onde está a lucidez
que simplesmente
nos levou à loucura.”
.César Mamão.
(artista plástico sergipano)
O que é a vida?
Um eterno recomeçar
Quantas vezes rimos alto com copos nas mãos
rodeados de mulheres de caráter duvidoso
Quantas vezes recitamos poemas embriagados de paixão e prazer
Quantas vezes ficamos sob os guarda-sóis em noites chuvosas
com olhos iluminados
de cogumelos
rindo
rindo
rindo...
com ideias a mil
Quantas vezes andamos sobre os meios fios gritando aos quatro ventos:
Deus está morto.
Quantas vezes choramos juntos os momentos tristes
Quantas vezes fomos nós mesmos em um mundo de iguais
Quantas vezes entramos em quebradas em busca de “umzinho”
Nada como a “manga-rosa”
Quantas vezes discordamos dos “modelos”
de bons moços universitários
Quantas vezes tornamos ideias carnes
e
carnes-ideias
Quantas vezes discordamos entre nós em busca de verdades relativas
Quantas vezes bebemos e fumamos nos degraus da
Santa Puta Catedral Aracajuana
Quantas vezes nos metemos em roubadas por um rabo-de-saia
Quantas vezes fizemos loucuras em nome da lucidez
lucidez
lucidez
quem mais lúcido
do
que
o
louco
Quantas vezes provamos nossa amizade através de gestos e ações
Quantas vezes pensamos
em mudar o mundo
com nossos poemas
Quantas vezes desafiamos o mundo,
a história
e a morte
em nome do que acreditamos
Quantas vezes tenho que dizer bem alto:
“A AMIZADE É O MAIOR VALOR !”
Quantas vezes direi que os amigos escolhemos
pela inteligência,
pelas afinidades
e
pelo caráter
Amigos hoje exalto a verdadeira amizade
amizade
aquela
que
está
além
do
que
se
vê...
Sergio Dedão
17/03/2010
terça-feira, 23 de novembro de 2010
OBSERVO O MUNDO PELA JANELA DO MEU TEMPO...
(Sérgio Dedão)
Observo o mundo pela janela
do meu
tempo.
Observo o mundo pela janela do meu
tempo
Vejo o fluxo da história
em fatos cotidianos
Sinto o peso do tempo sobre minhas
memórias em forma de cabelos
brancos
Ultimamente procuro sentido
para viver.
Estou tão longe de mim mesmo
perdido na imensidão escura
de meu ser.
Minha vida escorre como os
i i s o s pingos da chuva lá fora.
i i s o s pingos da chuva lá fora.
n d c m i a h a o
h a o o n u r
a r g v a
r o a .
e s
Observo o mundo pela janela do
meu tempo
Vejo que envelhecer é mais complexo
do que a história nos
ensina.
Sinto a complexidade da história
e do tempo sobre meus ombros.
Ultimamente vivo o cotidiano urbano.
Estou mergulhado na cotidianidade
complexidade
complexa da
minha
existência ...
Minha vida deseja sempre mais...
...vida ...
Observo a contradição da natureza
criadora
Vejo palavras que podem tocar
a mente e os
corações
Observo o mundo pela janela do
meu tempo
Vejo o sol se por-opor-pôr para o nascimento
de um novo mundo .
Tempo - amanhecer - alvorecer - ser
Sinto vontade de beber
Ultimamente sou um crítico de mim
mesmo.
Estou revendo meus valores
Minha natureza insana precisa de
desafios.
Observo a dificuldade para
renascer a cada momento
quando se morre.
Vejo o tempo e a história como
fonte de constante aprendizado.
Observo o mundo pela janela
do meu tempo
Vejo a extrema necessidade do eterno
aprender.
Sinto tanta vontade de criar para
perpetuar a beleza
da vida humana.
Observo os desafios de dizer o que
foi dito e o
que não foi dito com outras
palavras
Ultimamente tenho que
re-escrever meus desafios.
Estou buscando escrever minha
história fazendo história
Minha natureza bélico-guerreira
necessita de conflitos para criar
Vejo a arte como a fonte de conflito
revolucionários na mudança
da história e dos
valores
Observo o mundo pela janela do
meu tempo...
Sergio Dedão
04/02/2008
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