nos cubículos de uma favela do Terceiro Mundo
ou nas ruas novayorkinas de Basquiat.
Meu verso é como um Sócrates esfarrapado
sentado no calçadão da 13 de Julho orgulhosa
assistindo ao pequeno glamour primeiro-mundista
de Aracaju.
Meu verso é como um urro destruidor
de poses e conceitos
ante os holofotes americanos,
tem tudo a ver com caos e revolta
no underground da mente
onde há um concerto de rock and roll
repleto de fumaça, uísque e sexo.
Meu verso cospe nos sapos
da indigestão moral
e dá à luz a um hipster-beleza
pronunciando cânticos hereges
e abraçando a geração
que anunciou a morte de deus.
Meu verso mija no plenário
do Congresso Federal
e dispõe de um falo rabiscado
por Felicien Rops
que serve como parque de diversão
para as Madalenas que eu amo.
Meu verso é a enxada do nordestino
que rasga a caatinga do sertão
esperando a chuva cair para fazer a festa.
Meu verso é a sentinela atenta
sobre o pico do Aconcágua
ouvindo em silêncio
as epopéias e tragédias da América
como nas telas revi-vidas
de Glauber ou Scorsese.
Meu verso se eletrifica
nos ímpetos do corpespírito
sob um tropel de paixões
afirmadoras e saudáveis.
Meu verso tem como coordenação motora
a própria necessidade encarnada na terra.
É por necessidade então que varo os dias
consumindo a cachaça de meu corpespírito
e vagando inquieto pelo fabulário cotidiano
como os pássaros negros de um filme noir.
(Pirro)
"Bebe o dono, bebe a dama, bebe o servo, bebe a ama, o burguês com o vago o camponês com o mago. o marginal, o indigente, o moço e o veterano, bebe o abade com o decano, bebe o irmão, bebe a irmã, bebe o velho, bebe a anciã, bebe o nobre, bebe o vil bebem cem e bebem mil. Mas ao beber na alegria, falsos irmãos de nós judiam sempre nos vilipendiam. Quem nos inveja, seja maldito, no livro dos justo não fique inscrito" (Os Goliardos)
Panóptico
quarta-feira, 14 de julho de 2010
METAPOEMA VISCERAL II
num realismo impressionista
de tripas-medula-sêmem-coração.
O autêntico poeta é como um cão largado
como quem se embriaga de entorpecentes
e não se importa
com os manuais gelados da bestética.
A crença no “belo” é para os poetas das ruas
uma fantasia adolescente de donzelas
à espera de um príncipe encantado.
A maioria dos poetas é rãs de pântano
e seus versos são como carne de galinha de granja
cheios de hormônios artificiais,
suas imagens poéticas são frias
como as vísceras de porco
sobre as bancas das feiras –
nada dizem além de suas dores de cotovelos.
Esses poetas de receituários
não vivem, apenas devaneiam
por trás de seus belos versos e idéias.
Sua poesia mata a vida e renega a terra
com suas entranhas
escoriadas de delírios e histerias
Eles são somente espantalhos do espírito
tremulando nas colunas
dos jornais ou sites coloridos.
Deixem os metafísicos sem sangue
se deleitarem nas cadeiras de ouro
de suas academias.
Não fomos nascidos
para tomar chá no asilo dos imortais
sobre tapetes vermelhos
vendendo homenagens
aos sábios de fachada.
Que o nosso mundo seja redimido
pelo poema-homem-mulher real
com toda a eletricidade da carne viva
inscrita no papel em branco da Terra
sem frescuras nem ilusões estúpidas.
(Pirro)
domingo, 7 de março de 2010
ACORDEI RESSACADO DE MANHÃ
Acordei ressacado de manhã
com o sol invadindo meu cérebro,
tomei café e acendi um cigarro-de-palha
então ouvi o doidivana dizer no rádio:
“pelo amor de deus, não fume essa droga”.
Comi algumas páginas de Pergunte ao pó
apertei a mão de Arturo Bandini
e saí pra rua
bati bola com os camaradas
depois Fui cervejar com algumas garotas
no mercado do Centro
onde operários bêbados urravam
diante do balé das prostitutas
voltei feliz para casa e lá estava
o charlatão da tv nausea-bundando:
“o mundo está perdido,
só Jesus pode nos salvar”.
Vesti a armadura azul-petróleo
afinei a PT.40 como uma velha gaita
e fiz o serviço limpo pro deus Estado
de acordo com os rigores
e as graças da lei.
Atravessei a faixa de pedestre
acenando e pedindo passagem
com o sorriso-cidadão na cara,
o sujeito da Hilux preta
apontou-me o dedo fraternal:
“aqui ó!”
Certamente, ele deseja o vosso reino
que ao vosso reino nada.
Subi a rua cantando
um blues atropelado
aí alguém me mandou passar a grana
lhe dei um soco e recebi o troco
fui parar na Urgência do Cirurgia
e lá estava o neurótico
me enchendo o saco:
“triste daquele que não sabe rezar”.
Admiráveis pastores da moral,
por que não enfiam um canhão
em seus neurônios
e pegam o trem-bala
para o reino dos céus?
Assim, o mundo se libertaria
e a vida seria uma dança
cannabiritada.
(Pirro)
sábado, 13 de fevereiro de 2010
ALQUIMIA DOS AFETOS
“Nitimur in vetitum” (Ovídio)
A noite se dissolve na alquimia dos afetos
os malditos mordem o umbigo das prostitutas
bem relaxados e o cérebro fervendo
feito chaleira de café.
A esfinge louca que somos se reconhece
os malditos mordem o umbigo das prostitutas
bem relaxados e o cérebro fervendo
feito chaleira de café.
A esfinge louca que somos se reconhece
no coração do mercado-noite
onde os animais furtivos
pedem uma dose de conhaque
para esquentar seus delírios e delitos
a fim de fugir da patologia
da normalidade repressiva.
Cá estamos nós entre homens e mulheres
nas avenidas e ruas da noite acesa
tragando a cachaça do momento único.
Aos cambaleios poético-etílicos traçamos
onde os animais furtivos
pedem uma dose de conhaque
para esquentar seus delírios e delitos
a fim de fugir da patologia
da normalidade repressiva.
Cá estamos nós entre homens e mulheres
nas avenidas e ruas da noite acesa
tragando a cachaça do momento único.
Aos cambaleios poético-etílicos traçamos
o mapa de nossos subterrâneos
como quem pesca nas madrugadas
como quem pesca nas madrugadas
do Rio Sergipe.
Uivamos canções ao proíbido
em que o animal inocente
Uivamos canções ao proíbido
em que o animal inocente
de Rilke nos diz: “é às noites
que minha alma se confia”.
Quando o dia abre os olhos
descobrimos que o céu e o inferno
se fundem no sangue-firmamento
de nossas secretas e sangrentas paixões.
Quando o dia abre os olhos
descobrimos que o céu e o inferno
se fundem no sangue-firmamento
de nossas secretas e sangrentas paixões.
(Pirro)
RAFAELA
"Sainte-Thérèse comme philosophe" by Félicien Rops (1833- 1898)
Rafaela me diz
que veio do sertão de Alagoas
atravessou o Rio São Francisco
na carroceria de um mercedes-benz
agora, ela está amaciando
os membros grotescos
atravessou o Rio São Francisco
na carroceria de um mercedes-benz
agora, ela está amaciando
os membros grotescos
dos senhores da moral
nos cabarés e mercados do Centro.
17 anos e um olhar de puta inocente
coração de moleca espevitada
acariciando a pedra bruta
desses dias tão polidamente bárbaros
e de palavras que não colam
no Porto Dantas de Rafaela.
Ela me diz que foi abandonada por Cristo
e suspeita que ele não é o que dizem
que a sociedade é feita de animais cínicos
sob a máscara de educados artifícios:
“minha única saída, ela diz
nos cabarés e mercados do Centro.
17 anos e um olhar de puta inocente
coração de moleca espevitada
acariciando a pedra bruta
desses dias tão polidamente bárbaros
e de palavras que não colam
no Porto Dantas de Rafaela.
Ela me diz que foi abandonada por Cristo
e suspeita que ele não é o que dizem
que a sociedade é feita de animais cínicos
sob a máscara de educados artifícios:
“minha única saída, ela diz
é endurecer o corpo e abrir as pernas
prum mundo sem amor”.
Ah, pode acreditar, minha santíssima puta
vou endurecer junto com você
num mundo de parabólicas e vitrines coloridas
onde socialites vaidosas e sem-cérebros
berram em pastos sempre verdes
babando as pencas de cajus,
e uruburgueses porcolíticos franqueados
chapados de whisky, cifrões e retóricas
na moderna província de Aracaju.
(Pirro)
Ah, pode acreditar, minha santíssima puta
vou endurecer junto com você
num mundo de parabólicas e vitrines coloridas
onde socialites vaidosas e sem-cérebros
berram em pastos sempre verdes
babando as pencas de cajus,
e uruburgueses porcolíticos franqueados
chapados de whisky, cifrões e retóricas
na moderna província de Aracaju.
(Pirro)
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
SUPER-HOMEM (por Pirro)
O amor, a dureza
o caminho, sacrificeo vento nos cabelos,
a pedrada na cara
a rasteira e a queda,
a poeira nas calças.
o fumo, bem-relax
olhe-se no olho
quebre o espelho
e
jogue o seu jogo
o caminho, sacrificeo vento nos cabelos,
a pedrada na cara
a rasteira e a queda,
a poeira nas calças.
o fumo, bem-relax
olhe-se no olho
quebre o espelho
e
jogue o seu jogo
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
COME ON, BABY (por Pirro)
(Genesis by Robert Crumb)
Ok, garota, confesso,
eu sei que há uma pedra em meu sapato
mas o deus da sacanagem segredou-me
os mistérios da vida e nos abençoou.
Monte na serpente embriagada;
o pecado é uma ilusão do medo –
Vem, belo animal,
trepe comigo, só esta noite.
Ah, esqueci.
Você é uma casta devota
de dourados castelos
à espera do palhaço encantado
ornado de olhos macios e camisa de seda
como os “ídolos” da televisão.
Saiba que com o tempo
o coração acaba desembestando
em gruídos de beatas
rabugentas e frustradas.
Por que contemplar
um deserto judaico de dor?
Queime a bíblia, destrua a Igreja,
se lance como uma pantera
em torno da bela carniça,
Solte as lavas de seu vulcão
estrogenado,
você é pura nitroglicerina!
“Come on baby, light my fire”!
Não represe seu indomável corpo,
pensando no que os idiotas vão falar,
o vizinho é um parasita moral
que vê maldade até num macaco
descascando banana.
Vamos rezar na Sacra Orgia
“dancing in the dark”
como dois demônios dionisíacos.
(Já pensou, foder no altar
num dia de ação de graças!)
O céu e o inferno transpiram
na castidade de nossa carne, pulsões e mente
num frenesi ditirâmbico
de delicadezas, embates e metidas.
Ah, esqueci.
Você é uma moça de família
com pose de “papai-e-mamãe”,
mas eu sei qual é a sua,
no fundo deseja ser bem tratada.
Me diga, vítima das madames mascaradas,
por que se encantar
com as fachadas cor-de-rosa
computando dívidas e dúvidas?
Pense nos sacerdotes
batendo punhetas claustrofóbicas,
ou nas “irmãs” que em vão
põem cadeados em seus clitóris,
lembre-se de Betsabá
num deserto de volúpia, júbilo e dor,
e arranque essa couraça metafísica e rude
que sufoca o vulcão entre suas pernas.
Não tenha medo dos lobos famintos
que uivam sob sua janela,
afinal, você é pura nitroglicerina.
Come on, anjo louco,
acenda meu cigarro só esta noite,
trepe comigo como se fosse a última vez
pensando nas reflexões chapadas
do velho Henry Miller
para que dancemos bêbados
no prazer de existir.
Sinta os milagres de um deus ereto
girando
em torno e dentro
de seu “pussy planet” –
cheio de alucinógeno e ditirambo.
Mas quando o monte Citéron
de nossos instintos pegar fogo,
não renegue sua sagrada animalidade
como fez a beata elisabetana
Katherine Stubbes
que execrou sua cadelinha de estimação
mergulhando no céu crucificado
de sua neurótica ilusão.
Como on, baby, acenda o meu fogo!
O tempo ri dos indecisos e medrosos
e abençoa os ousados
que se lançam ao proibido.
(Pirro)
domingo, 29 de novembro de 2009
É NATAL (por Pirro)
É natal, tempo de assegurar
1m² de céu no paraíso.
O fetiche uruburguês capitalista
surge em seu trenó encantado
com sua bondade
de barbas brancas
entorpecendo o espírito da manada
ante o narcótico
de sua gargalhada sincera.
Trancado a sete chaves
durante onze meses em algum cofre
no glacial ártico da humanidade,
o amor ao próximo floresce
nos canteiros da cidade
se expande como um boato
bem intencionado.
Através da sedutora máscara do velho,
a alegria transparece
nos rostos estranhos
tão duradoura como fogos de artifícios.
É natal. Oh, é natal!
mas quando olhamos sem querer
o outro lado da cidade
nos subterrâneos dos bairros
Através da sedutora máscara do velho,
a alegria transparece
nos rostos estranhos
tão duradoura como fogos de artifícios.
É natal. Oh, é natal!
mas quando olhamos sem querer
o outro lado da cidade
nos subterrâneos dos bairros
e sertões afora,
lembramos que natal e papai noel
não passam
de uma brincadeira sem graça
inventada para a ilusão
dos idiotas da Terra.
lembramos que natal e papai noel
não passam
de uma brincadeira sem graça
inventada para a ilusão
dos idiotas da Terra.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
ESTOU GASTO COMO MEUS SAPATOS (Sérgio Dedão)
“guerra é paz
liberdade é escravidão
ignorância é força”
(George Orwell - 1984)
Estou gasto
como meus sapatos
Tenho vivido e andado
muito
Absorvido por meus pensamentos
Pensamentos tão gastos
quanto as solas de meus sapatos
Roubei muitas idéias
e
misturei com minha
mente atômica
Pinceladas atômicas
em um mundo sem cor
Sem cor não é o mundo
São as pessoas quando
estão tristes
Disparo palavras
em um mundo blindado
de violência e pobreza
Sinto-me longe de mim
mesmo.
Perdido em um oceano
de idéias fixas-móveis
Sou um megalomaníaco
atado por minhas próprias idéias
Estou gasto
como meus sapatos
Não quero salvar o mundo
Ele não quer ser salvo
A transformação da realidade
é
uma
responsabilidade
e
uma
escolha
subjetiva
A matrix é um mundo para poucos.
A verdade é um mundo para poucos.
A estupidez é um mundo para muitos.
A ignorância é um mundo para muitos.
Se sua apatia é uma síndrome.
Se sua indiferença é um câncer.
Se sua alma é podre.
Responsabilize-se por você.
Você entendeu?
Você está pronto?
Você ressucitou-se de seu mundo
de consumo e controle?
Responsabilidade e escolha
são palavras reais.
Ser livre
é
uma
responsabilidade
e
uma
escolha
Você me entendeu?
Estou gasto
como os meus sapatos.
(Sergio “Dedão”)
24/05/2007
domingo, 20 de setembro de 2009
SAUDAÇAO AOS PAPAGAIOS (por Pirro)
O McDonald’s invadiu Aracaju,
numa euforia folclórica
os papagaios devoram
o símbolo do progresso
desprezando o cuscuz,
o feijão e a farinha
que mata a fome e sossega o animal.
Esses papagaios majestosos
engolem por status
a griffe luxuosa de rações in fashion,
depois arrotam com finezas
a filosofia da boa saúde e do bom tom
embalado com suas reflexões profundas
no pagode da culturalite brasileira.
Extra! Extra! Extra!
Saiu nos jornais da cidade:
“o McDonald’s conduzirá
os papagaios da terra ao novo paraíso”.
Diante da boa nova
seus espíritos cavalgam no dorso
numa euforia folclórica
os papagaios devoram
o símbolo do progresso
desprezando o cuscuz,
o feijão e a farinha
que mata a fome e sossega o animal.
Esses papagaios majestosos
engolem por status
a griffe luxuosa de rações in fashion,
depois arrotam com finezas
a filosofia da boa saúde e do bom tom
embalado com suas reflexões profundas
no pagode da culturalite brasileira.
Extra! Extra! Extra!
Saiu nos jornais da cidade:
“o McDonald’s conduzirá
os papagaios da terra ao novo paraíso”.
Diante da boa nova
seus espíritos cavalgam no dorso
de seus entusiasmos coloridos
cutucados pelo sonho Beverly Hills
da 13 de julho
como numa propaganda romântica
de telefone celular.
Come on, my brother, saudemos
a novidade dos sanduíches de ouro
com overdoses de carnaval
cutucados pelo sonho Beverly Hills
da 13 de julho
como numa propaganda romântica
de telefone celular.
Come on, my brother, saudemos
a novidade dos sanduíches de ouro
com overdoses de carnaval
e tiaras de caju.
Yeah! A alegria borbulha
no estômago da cidade.
Realmente nada mais importa, yes!
O importante é estar no centro
Yeah! A alegria borbulha
no estômago da cidade.
Realmente nada mais importa, yes!
O importante é estar no centro
com a cabeça cheia de oxigênio
soprando lorotas e logomarcas.
Me-digam papagaios dourados:
esse é o único sentido da vida,
de seus dias tão célebres e felizes
no teatro de seus jogos e diversões?
(Pirro)
soprando lorotas e logomarcas.
Me-digam papagaios dourados:
esse é o único sentido da vida,
de seus dias tão célebres e felizes
no teatro de seus jogos e diversões?
(Pirro)
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
MANDAKARU (por Pirro)
“Sou como mandacaru: nem dá sombra,
nem dá encosto” (expressão popular)
Neste ermo de catingas e brenhas,
se enraíza meu esqueleto de cacto
a refletir sua arquitetura desleixada
na tela do pôr do sol do SERtão.
Quando estranho o absurdo em mim
descubro a virtus de meus espinhos
e me flagro Mandakaru.
Privado de belas folhagens
me adapto à seca desolação.
Com fome de tempestade
tento me erguer como um carcará
mas eu não posso sair de mim
nem me transformar em camaleão:
Minha sina é projetar espinhos
pois sou Mandakaru.
Assim real e vivo como um teiú
vagando pelos confins dos sertões
escuto o canto dos caburés noturnos
e sinto as taças noctifloras do corpoespírito
revelarem-se através de meus poros
que se adensam em bemalmequer:
eis os contrários à flor dos espinhos
deste ser Mandakaru.
Carrego em meu semblante sulcado
como a terra de meus pais e avós,
a tirania das longas estiagens
bem como a violência das trovoadas,
que arrasta em sua espiral
fragmentos de vidas e utopias;
mas continuo sobrevivendo às catástrofes
e resistindo aos meus próprios espinhos:
Afinal, sou Mandakaru.
(Pirro)
nem dá encosto” (expressão popular)
se enraíza meu esqueleto de cacto
a refletir sua arquitetura desleixada
na tela do pôr do sol do SERtão.
Quando estranho o absurdo em mim
descubro a virtus de meus espinhos
e me flagro Mandakaru.
Privado de belas folhagens
me adapto à seca desolação.
Com fome de tempestade
tento me erguer como um carcará
mas eu não posso sair de mim
nem me transformar em camaleão:
Minha sina é projetar espinhos
pois sou Mandakaru.
Assim real e vivo como um teiú
vagando pelos confins dos sertões
escuto o canto dos caburés noturnos
e sinto as taças noctifloras do corpoespírito
revelarem-se através de meus poros
que se adensam em bemalmequer:
eis os contrários à flor dos espinhos
deste ser Mandakaru.
Carrego em meu semblante sulcado
como a terra de meus pais e avós,
a tirania das longas estiagens
bem como a violência das trovoadas,
que arrasta em sua espiral
fragmentos de vidas e utopias;
mas continuo sobrevivendo às catástrofes
e resistindo aos meus próprios espinhos:
Afinal, sou Mandakaru.
(Pirro)
segunda-feira, 27 de julho de 2009
RAIMUNDO JACARÉ DÔIDO (por Pirro)
Toda cidade que se preza
tem de ter um louco varrido
para lembrar
aos ditos normais
que sua proclamada razão
é tão escorregadia
quanto casca de banana:
Eis aqui Raimundo Jacaré
o aluado de Itabi,
que faz cara feia quando estar faminto
e dança quando come uma bacia de cuscuz.
domingo, 19 de julho de 2009
SOBRE AS CINZAS DE DEUS (por Pirro)
O estômago se retorce de náusea
pelas mentiras metafísicas
que tentam cortar as asas
qual tesoura afiadíssima
para esbarrar o devir dos dias
ante o feitiço de suas verdades.
Mas, meu olhar anormal entrevê
um paraíso absurdo encravado
na musculatura nervosa
do platonismo cristão.
Um deus ridículo chora de dor
apreciando
suas pobres mãos crivadas de prego
desafiando
a vontade de viver.
Diante dessa visão do hospício-homem,
balanço a cabeça
e lanço-me na tempestade
sob a embriaguez do sol.
Como um pássaro negro
furo o mau olhado
dos destruidores da terra.
Bêbado como um cachorro,
afago minha máscara
e gargalho alto na praça
onde prostitutas cheirosas
rondam o poço em transe dos homens.
Mais vivo do que nunca
celebro a vida do Pirro
sem metafísica
e passo a amar a tempestade
num rosto de mulher.
Danço na companhia de Raimundo dôido
de Itabi
e entro em comunhão com o mundo
cantando os hinos-Terra de Walt Whitman
e andando sobre as cinzas de deus
pelas ruas de Aracaju.
(Pirro, participação especial de Beto Oião)
pelas mentiras metafísicas
que tentam cortar as asas
qual tesoura afiadíssima
para esbarrar o devir dos dias
ante o feitiço de suas verdades.
Mas, meu olhar anormal entrevê
um paraíso absurdo encravado
na musculatura nervosa
do platonismo cristão.
Um deus ridículo chora de dor
apreciando
suas pobres mãos crivadas de prego
desafiando
a vontade de viver.
Diante dessa visão do hospício-homem,
balanço a cabeça
e lanço-me na tempestade
sob a embriaguez do sol.
Como um pássaro negro
furo o mau olhado
dos destruidores da terra.
Bêbado como um cachorro,
afago minha máscara
e gargalho alto na praça
onde prostitutas cheirosas
rondam o poço em transe dos homens.
Mais vivo do que nunca
celebro a vida do Pirro
sem metafísica
e passo a amar a tempestade
num rosto de mulher.
Danço na companhia de Raimundo dôido
de Itabi
e entro em comunhão com o mundo
cantando os hinos-Terra de Walt Whitman
e andando sobre as cinzas de deus
pelas ruas de Aracaju.
(Pirro, participação especial de Beto Oião)
quinta-feira, 7 de maio de 2009
UM CANTO PARA MARIA
"La noche de los Pobres" (1924), por Diego Rivera
|
Maria botou feijão no fogo
lavou roupa passou ferro
e assistiu à novela da classe média
com um olhar perdido
na tramóia do luxo-lixo burguês
deu uma trepada burocrática
com o seu homem,
caiu no sono e sonhou
com os anjos da casa própria.
levantou-se nas carreiras
deu um tapinha
na bunda do guri:
“s'acorda que mamãe vai trabalhar”.
O garoto se espreguiçou
abriu os olhos e sorriu
como o céu lá fora.
Maria lhe deu um beijo
e saiu pra cozinha.
Preparou a bóia,
tomou um banho frio
e jogou o uniforme dos suados dias
por cima do corpespírito.
Aprontou o guri com pressa
e foi pegar o ônibus da vida.
Maria subiu a rua cheia de encanto
malucando com o seu pirralho.
O sol brincou no sorriso de Maria
e ela foi lutar pelo pão
que o mundo civilizado amassou.
(Pirro)
OS PÁSSAROS NEGROS ESTÃO AGITADOS HOJE (Charles Bukowski)
(O grande velho Buk tomando uma)
Solitário como um pomar seco e usado
espalhado sobre a terra
para uso e redenção
abatido como um ex-cão guia
atirado na esquina que vende jornais
tomado por lágrimas
como uma velha dançarina de coral
que recebeu suas contas
um desejo, um lenço em ordem com seu deus
com sua adoração
os pássaros negros estão agitados hoje
como unhas encravadas
numa cela que ultrapassa a noite
vinho, vinho gemido
os pássaros negros correm ao redor e
tocando sempre as mesmas melodias
espanholas e ossos
e todo lugar é lugar algum
o sonho é tão ruim quanto
panquecas e pneus vazios.
por que nós seguimos
com nossas mentes
e bolsos cheios de poeira
como um garoto
recém expulso da escola ...
você me diga,
você que foi um herói
Solitário como um pomar seco e usado
espalhado sobre a terra
para uso e redenção
abatido como um ex-cão guia
atirado na esquina que vende jornais
tomado por lágrimas
como uma velha dançarina de coral
que recebeu suas contas
um desejo, um lenço em ordem com seu deus
com sua adoração
os pássaros negros estão agitados hoje
como unhas encravadas
numa cela que ultrapassa a noite
vinho, vinho gemido
os pássaros negros correm ao redor e
tocando sempre as mesmas melodias
espanholas e ossos
e todo lugar é lugar algum
o sonho é tão ruim quanto
panquecas e pneus vazios.
por que nós seguimos
com nossas mentes
e bolsos cheios de poeira
como um garoto
recém expulso da escola ...
você me diga,
você que foi um herói
em alguma revolução
você que ensina crianças
você que bebe socialmente
você que possuiu largas casas
e caminha em jardins
você que matou um homem
e possui uma bela esposa
você me diga
porque estou no fogo dispensado
como um velho imprestável.
nós certamente teremos
você que ensina crianças
você que bebe socialmente
você que possuiu largas casas
e caminha em jardins
você que matou um homem
e possui uma bela esposa
você me diga
porque estou no fogo dispensado
como um velho imprestável.
nós certamente teremos
uma interessante correspondência
manteremos o carteiro ocupado
e as borboletas e formigas e pontes e cemitérios
os fabricantes de mísseis
manteremos o carteiro ocupado
e as borboletas e formigas e pontes e cemitérios
os fabricantes de mísseis
e cachorros e garagens mecânicas
continuaremos ainda
até nos faltarem selos ou idéias.
não se envergonhe de nada
creio que Deus signifique tudo isso
como travas nas portas.
continuaremos ainda
até nos faltarem selos ou idéias.
não se envergonhe de nada
creio que Deus signifique tudo isso
como travas nas portas.
(Charles Bukowski)
domingo, 29 de março de 2009
sábado, 28 de fevereiro de 2009
AQUARELA BORRADA (por Pirro)
A propina é descolada na esquina
Ela tem a lei ao seu lado.
O tempo passa banhado em mármore
E apaga rostos e rastros de coturnos.
O ato do usuário já não espanta,
Parece tornado natural.
A corrupção é uma virtude genealógica
Que alimenta e move há séculos
O homo sapiens das regiões tupiniquins.
Sua ginga maquiavélica revela
A fome mísera da alma,
Cuja baba de urubus
Gangrena a Hordem e o Progreço.
O uruburguês financia as pastagens.
As autoridades tangem o gado,
Que o fazem escancarar os dentes
Na falsa alegria dos trios elétricos,
Cujos efeitos entorpecem o estômago
E bestializam a consciência.
A ignorância e o preconceito
São imagens curtas, quadros sem tela
Sob o facho de cérebros ofuscados,
Que emitem verdades-vômito
Sobre tudo e sobre nada,
Jogando apenas conversa fora,
Numa troca interativa de banalidade
e merdasofia.
Diante de minha indignação algemada,
Vejo o sistema impor sua tirania tacanha
Com um copo de uísque entre os dedos
E um cigarro entre os lábios esclerosados,
Enquanto injeta no cérebro do rebanho
Seu caô esfarrapado: “use a cabeça,
não use drogas”,
Como se estivesse lidando
com bestas ou seres retardados
Numa Arena Verde-Amarela
Onde o carrasco comanda os açoites
De uma democracia às avessas.
ARACAJU (por Pirro)
Por que hei de passar as mãos em seus cabelos
se embaixo deles
existe uma grande cabeça oca
arquitetando suas bases e diretrizes?
Por que iria ocultar suas farsas e fossas
embaixo do tapete
como sempre fizeram suas ilustres raposas?
Por que iria tirar as sandálias
e ofertar-lhe poemas e músicas
no dia do seu aniversário
como fazem os artistas
sem sangue da terrinha
estufados de tolices idealistas?
Por que me tornaria um vira-lata
de sua politicalha retórica
que sempre soube domesticar
o espírito do rebanho
com suas emendas e tapa-buracos?
Por que teria de compartilhar
com suas lições de moral
e cacarejar suas rezas doentias ou fingidas,
se minha fé foi plantada
na saúde selvagem
dos desregrados da Terra?
Por que iria me lambuzar
em seus carnavais ridículos
se me deparo
com uma admirável merdosofia
lustrando seu intestino grosso provinciano?
Na verdade, não vivo por conveniência
de guardanapos
deslizando delicadamente na boca da alta roda.
Não tenho o orgulho besta
de seus urbanóides queridos
nem a "urbanidade" gramatical
do professor John.
Prefiro pichar respeitosamente
as fachadas barrocas
de sua culturanemia tecnoescatológica.
Como Bukowski acariciou
os muros de Los Angeles,
assim eu pinto um diabo-máscara
nas ruas de Aracaju.
(Pirro)
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